Numa das paredes do café, existia um espelho a todo o comprimento. Ao levantar os olhos do jornal, apercebo-me que um casal se entreolha. Nada são um ao outro. Cada um em sua mesa. Tornam-se cúmplices de sorrisos e olhares atrevidos. Desenvolve-se uma linguagem de sedução que me fascina. Prudentes meneios geram uma atmosfera de desejo, uma tentação em pecar. A voluptuosa libertinagem encanta-os e delicia-os a avançar naquele jogo lascivo. De forma arrojada transmitem autênticos sinais de acasalamento. Afoitamente, ela mordisca os lábios, e num simples trocar de pernas fá-lo, discretamente, salivar. Pairava uma aura de excitação tal que me eriçava arrebatadamente. Desfrutava. Sentia-me à mercê do incontrolável.
Ela deseja ser desejada. Impulsivamente, levanta-se e dirige-se à toilette. Possivelmente, para retocar a maquilhagem. De soslaio, encara-o como se o convidasse a acompanhá-la. Tentador. Não? Ele nem tenta disfarçar e segue-a. Só me lembro de olhar para o relógio e ter passado meia hora. Continuavam esgueirados, sem dar notícias.
Fez-me pensar em escapar à rotina. Algo de desavindo se passava ali. Especularia que: São lugares de rompante que passam a correr na nossa vida. Toca e foge: "Em geral, os cenários pouca importância, têm". Calham, e às vezes não calham mal. Tinha de ser ali: "Num café banal, onde tudo pode acontecer...” Fortuitamente, um casal estranho sente atracção. Nenhum deles faz ideia de quem é. É irrelevante. Interessa só que os sentidos estejam apurados. Não importa quem repara. A luxúria, que ambos querem partilhar, sobeja.
"A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais..." - Sofia de Mello Breyner Andresen,
quarta-feira, setembro 12, 2007
segunda-feira, setembro 10, 2007
sangue
Gotejar
As gotas caiam-me na cara, sabia bem. Tocam na pele, e desaparecem com o calor que se sente. Escorrem sôfrega e docemente, pelo pescoço. Percorrem ávidamente a pele por aquele momento. Nunca mais me tocaste. A chuva sempre fez mais do que tu. E aquele abraço, nunca mo deste. Os teus braços, à minha volta, nunca mais os, senti. O teu arfar. A tua respiração. Ela fazia-me gotejar, só de te sentir, e com o teu toque, estremecia. Vivia.
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