segunda-feira, junho 27, 2005

Um pouco de silêncio I

Há muito que não vinha, aqui, dar o ar da minha graça, - se é que vós me achais graça - não tenho tido tempo, nem um pouco de silêncio.

Surge um pouco de silêncio nas palavras que me assaltam à noite.
Um pouco de silêncio, por favor.
Como que surgissem perversas, desenquadradas, desacertadas e julgadas durante o dia, como se elas deixassem de fazer sentido? Não seguem o seu rumo, tornaram-se desnaturais, e as que desensinam, e as outras simples reerguem-se sem som. Mudas, e inalcançáveis.
Ter-vos-ão dito que, sem voz, são secas. Ninguém as lê. Nem as entende. Niguém as ouve. Caem no marasmo do esquecimento, transformado num deserto de sal.
Palavras, letras, ditos, expressividades que se perdem. O trato num sem tacto. Elas escapolem na mente adversa de gentes. Sem rumo, sem destino.
Um pouco de silêncio por mim. Por favor.

Neste pouco silêncio que me resta nem, a quem amo, me ouve.
No pouco silêncio, a quem tento compreender, me vê. Eu estive sempre aqui.
Já não me ouves, já nem me sentes, já nem me cheiras. Talvez o odor se tenha esgotado, mesmo. Não sei.
A voz tenha doído tanto, que grito por um pouco de silêncio.