terça-feira, outubro 10, 2006

Saudades de inventar

Faz tempo que, aqui não venho.
Ou será o tempo que me faz isto.
Nostalgias. Amores impraticáveis.
Amizades indefiníveis. Desencontros.
Estórias a contar ou a inventar. Tenho saudades.

Mal-entendidos, receios, algumas palavras, e emoções.
Afazeres excessivos, desavindos que me têm desviado daqui.
Projectos envolventes e, quão vacilantes.
Não há tempo, nunca há tempo, ele, sempre, nos foge.
À ausência de nós próprios, o tempo traz.
Tanto se passou. Gente nova, gente velha, os que escaparam, os que se mantêm.
É o universo, o caro ri-se em constante transformação. Reformas e retomas. De mão em mão, as opiniões e os jeitos abundam. Harmonias e segredos revelam-se - entre multidões e gentes.



A rua estava silenciosa. Quase dez horas da noite. Não havia, praticamente, barulho. Só o do comboio. De vinte em vinte minutos, ouvia-se o “pouca terra, pouca terra”. De quando em vez, passava um carro, ou alguém que usufruía de bicicleta, o que seria uma das últimas belas noites de Verão. Pois, era o fim do Verão que se aproximava. Noites como esta, restariam poucas.
Assomei à janela. Um calor infernal. Um céu limpo. Estava lua cheia. De um brilho inexplicável. Nem as infelizes ou poucas árvores buliam, acostumadas à poluição. Um cão corria do dono. Este, coitado, bradava para que ele não fugisse. A trela tinha-se-lhe escapado. Alguns rapazes brincavam às escondidas, outros riam, talvez partilhassem anedotas.
Via-se alguns dependentes ou habitues da TV. Provavelmente, algum filme, novela ou série que acompanhavam há meses.
O que se passa por detrás daquelas janelas, algumas escancaradas, outras com luz meia baça. Tudo ou quase tudo. Da criatividade não abdico. Se me pedissem não a trocaria por nada.
A Joana sentia-se cansada e chorosa, acumulava noites longas sem dormir, o homem com quem partilhava a casa, traí-a. Discussão à vista ou um desamor despoletado por simplicidades, os casais que não borrifam a relação, é o que calha.
Rotina. Caos. Irreversível desfecho.
No piso de baixo, observo uns rapazes. Fixam um computador, provavelmente, navegavam nalgum chat, ou site mais ousado. No terceiro direito, invejo uma rapariga que se pinta e emboneca para o homem dos seus sonhos. – “Pode ser o tal!” (lembram-se de “Janela indiscreta”, de Alfred Hitchcock)
Ele espera na outra sala, e mostra-se tão nervoso. As mãos suam-lhe, ansiosamente, e desorienta-se ao bisbilhotar uma moldura que caí no chão. Apanha-a e senta-se finalmente no sofá, massajando os dedos e arregaçando as mangas. Desperta um pouco a gravata e não pára de ver as horas. Não é que estejam atrasados. Vão sair pela primeira vez, só isso. Têm um jantar romântico. Invejo-a, sim. Jantares românticos são projectos que não fazem parte da minha agenda há uns anos.

Hoje em dia, já não me culpabilizo de não amar ou de não ser amada, e que haja alguém que me queira seduzir. Estou bem, mas deixei de acreditar no Amor. É um assunto que, já, me deixa dormir. Me deixa não esquecer as potencialidades e capacidades de praticar outros projectos que sei ser capaz.

Enquanto isto, deambulava pelos meandros da mente. Pensava na vida - no que tinha feito, no que poderia ter feito, porquanto seria digno o que fiz, por que lutei, pelo que aprendi, pelo que dei? Conclui que a vida que não escolhi teria sido mais rica, mais completa e, mais cheia pelo que poderia ser hoje e não sou. Será certa essa incerteza? E o que sou hoje? Não sei bem contar. Pensei indagar alguém que me conhecesse, e não sei o que expressaria! Sei inventar e contar Estórias. De os outros para os outros. Isso, gosto e sei fazer. Autobiografia seria breve, muito aquém do que sempre imagino ou imaginei para mim. J não se farta de me dizer que eu posso e devo ser, posso e devo querer, posso e devo fazer….

Amanhã, volto cá.
Até já!

terça-feira, setembro 05, 2006

... a vida envolve duas verdades entre as quais não há como escolher e que cumpre enfrentar juntas: a alegria de existir e o horror de acabar.

Simone de Beauvoir

Gestuality

terça-feira, agosto 22, 2006

A hostilidade do cimento – II

À debilidade, espalhada, em paredes estanques, recheadas de recortes, em caixilhos e retratos, apontamentos e, saudades magoadas, não se ausenta a memória.

Esperas. Emboscadas exasperantes. A percepção das coisas tende em escapar-nos. Os segredos enchem metrópoles inteiras, empedernidas, pela tradição que faz por nos lembrar regências familiares, impedimentos conscientes e superiores. Matérias e afins, temas e, disciplinas regulares. Os chamados Encontrões. Rumos. Metas e exemplos quase certos. É favor não assentar opções. Vive-se na corda bamba.

E as mentiras, as rejeições, as rotinas, as feições, as decisões amortecidas pelos movimentos mecânicos e rotineiros. Atalhos e percursos sinuosos, só nos desviam do que é essencial e, ao desfecho? Determina-se a inconstância que sempre sentíramos. È a inconstância do betume, a incongruência da realidade.

Sabemos que pode ser …algo que nos encalha, ou alguém que nos fere, ou que nos é amargo, ou que se cansa, ou alguém que apregoa. “…Caminhar em frente dói”, e que nos, deixa lá mais uma “ruga”, um laivo de fraqueza …É a vida ávida … Afinal é para este Todo, ao qual, vindos e concomitantes, nos vão sendo colocadas provas, motivos, e testes, alguns, inúteis. Será preciso tanta mágoa…! Hipocrisias escondidas e negociações. Envelheceres gastos e pesares hostis e putrefactos. Sangramos, não faz mal, faz-nos mais fortes! Esta é a nossa lei tão acostumada, é a própria vida. É a astúcia da própria. Desagrados acumulados de anos. Repressões vinculativas. Geração para geração. Pais e filhos. Pais para filhos. Certos ou errados. Nunca o soubemos!

quinta-feira, agosto 17, 2006

A hostilidade do cimento

Hostilidades desmedidas sob selvas … betume e argamassas construídas e animadas em ossos, sangue, veias e tendões, impacientam por estalar. Somos aias, somos paus mandados, somos fardo, somos proposta, somos projecto… de carne, somos … parentesco deste modo de vida.

O Homem possui, reina, determina, e destrói disposições maciças, elevações poéticas prostradas em restos, em pedaços de boatos, e abalos e ruínas tristes num sistema que, pervertido, actua por contentarmos os ditos ditosos.

Costumes arruinados, vícios únicos e indivisíveis, soltam-se em ameaças extraordinárias e mais prementes. Vive-se e sobrevive-se entre vínculos déspotas e isolados que desencadeiam tropeções cíclicos, só e enfadonha, sabemos que atropelarmo-nos sem dó nem piedade, é a melhor feição.

Há um ciclo adaptador que emite personagens desconhecidas e emergentes à nossa evolução. A cada pedaço que damos, a cada reacção ao perto, a cada imagem que criamos ou retemos. A resistência ao que é sadio. A firmeza permissível ao que nos faz feliz. É mecanicamente aceitável.

A progressividade e a tolerância à realização. É de praxe o Homem calar, nunca reclamar, e jamais altercar. Fiquemos à mercê da institucionalização do cimento. Ele entra-nos por todo o lado, sob a forma de instantes e influxos que, até, nos fazem falta.
Viemos ao mundo com defeito, será? Perdem-se em nós, ou será que nos perdemos neles? Or ever. Está instaurado.

Não nos cansamos de dizer a nós próprios que sempre assim foi (a auto-justificação transforma-se em auto-flagelação)! A favor da agressão, a favor do betume e dos espaços parcos em cimento mal enjorcados que ocupamos! E tudo isto é reflexo das nossas transformações. Um palco montado numa selva de cimento. Animais intoleráveis. Pressões mentais recatadas entre receptáculos de betume. Escolhas e intrigas minam alguém mais idóneo, mas isso não tem importância, desde que sobrevivamos às hostilidades do cimento.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Existe dentro de mim tanto amor sem sentido.

A FORÇA DAS COISAS

A FORÇA DAS COISAS

Não era do homem de cinqüenta anos que eu tinha saudade; não era daquele justo sem justiça, de arrogância desconfiada e rigorosamente mascarada, que rasgara meu coração ao consentir nos crimes da França; era o companheiro dos anos de esperança, cujo rosto despojado brincava e ria tão bem, o jovem escritor ambicioso, louco pela vida, por seus prazeres, por seus triunfos, pelo companheirismo, pela amizade, pelo amor e pela felicidade. A morte o ressuscitava; para ele, o tempo não mais existia, o ontem não tinha mais verdade que o anteontem; Camus, tal como eu o amara, surgia na noite, no mesmo instante reencontrado e dolorosamente perdido. Sempre que morre um homem, morre uma criança, um adolescente, um jovem: cada um chora aquele que lhe foi caro. Caía uma chuva fina e fria; na avenida Orléans, mendigos dormiam nas soleiras das portas, encolhidos e transidos de frio. Tudo me dilacerava: aquela miséria, aquela infelicidade, aquela cidade, o mundo, e a vida, e a morte.
Simone de Beauvoir

sexta-feira, junho 09, 2006

Desfragmentos

Quando tudo me parece ganhar sentido, foge-me a influência.

As palavras não saem, os afagos reprimem-se e, transformo-me numa outra pessoa.
Não consigo ser, atrapalho-me e não verbalizo metade do que tinha para te dizer.

Parece-me sempre que um outro universo se apodera dos meus feitos e sinais futuros, para se encontrarem ao dispor de outro alguém…

Será a inocuidade a revelar realidades que perdem o significado e põem termo às mensagens mal esclarecidas. A ausência distinta ao invés da fluidez natural do que, supostamente se quer dizer e se sente.

A falta de aprendizagem faz-me tropeçar no coração e a agilidade do que sou, do que aprendi, do que me tornei, volve-se numa agradável farsa. É tudo uma manha pegada quando apregoou que, desta vez, será desigual. Seremos sempre equitativos. O conceito é o mesmo, é aquele com que sempre lidei. Pois se nunca conheci outro.

E a facilidade com que me relaciono e, nos decepciono, altera completamente o rumo a um passo descompassado e antecipa o fim da narrativa.
Narrativas vivenciadas, elas perseguem-me, dominam e conduzem a mais uma que se esgota. É um ciclo de existências gastas e plenas de razão. E é como um lapidar idêntico, e, embora constante se acaba por se estilhaçar! Quase como se eu tivesse que as desfragmentar! Ou me visse obrigada a!

Nunca terei saber suficiente para abdicar de cometer os mesmos enganos, ou parecidos!

As relações serão sempre um mistério. Nunca nos conseguimos superar na totalidade de quem gostamos. Haverá indulgência para quem se quer mostrar diferente, desta vez? Só desta vez?! No desfecho, pensarei inevitavelmente o mesmo!

Eloquência tens-me enganado ao longo dos anos. Expressividades sinceras e definitivas… Tens gerido e clarificado o meu destino. Não há absolutas verdades, mas o facto de morares ao meu lado, tem feito a vida igual a si mesma.

Terei aberto o ciclo demasiado como sempre o faço, para que tu rejas o nosso universo. Se nunca houve nada. A minha cabeça agido à maneira do que nunca quase o meu corpo acompanha…é como se andasse desfasada do universo que me rodeia.

O meu corpo lá e a minha cabeça aqui. Ao juntá-las cresceria, amadureceria e explicar-te-ia como mudei! Mas não queria dizer que mudei por ti, mas por mim!

sexta-feira, maio 26, 2006

Palhaço de chocolate

















Era uma vez uma menina chamada Sara. Ela vivia com a sua avó desde que se lembra.
De olhos cor de amêndoa, sardenta e com umas longas tranças meio aneladas enfeitiçava quem se passeava pela rua. Na posse de um sorriso do tamanho do Sol, dizia olá a quem se metesse com ela.
Todos os dias, a caminho da escola e pela mão de sua avó, pedia-lhe que parassem, por uns segundos defronte de uma vitrina.
Uma vitrina enorme, toda ela feita de chocolate. Desde bolos a bombons, trufas, e alguns brinquedos. Um deslumbramento para qualquer criança. O que lhe despertava, ainda mais a atenção, era um palhaço imenso com um semblante sorridente, um olhar farto de ternura. Parecia falar com ela.
E a face inundava-se-lhe de alegria. Um palco de satisfação para ambas.
Sendo, uma família de poucas posses, a avó nem sempre lhe comprava o que ela queria. No entanto, Sara desde muito bebé que aprendera isso, mas bastava a avó olhar para os seus olhinhos vivaços, para perceber o que queriam dizer.
Para Sara, o mais importante era poder admirar aquela montra e, se fazia toda a diferença por breves minutos, contemplar aquele palhaço.
Um dia, a avó, deixa a neta na escola e entra na confeitaria. Pede para falar com alguém responsável. Ficara com medo de que o palhaço desaparecesse dali. E, após as explicações ao dono da dita doçaria, pede para que não venda aquele palhaço.
O senhor Ernesto da chocolataria concordou. Nunca a Sara soubera que a avó tinha ido falar com ele. Um dia, o senhor Ernesto atento à chegada de Sara e sua avó, chamou-as. Ela entra contente e meia envergonhada e diz-lhe que o palhaço dela tem nome e, que costumavam falar um com o outro. Enternecido com aquele monólogo, dá-lhe um chocolate pequenino em forma de palhaço, igual ao palhaço da montra.
Todas as manhãs, o senhor Ernesto estava à coca de Sara para lhe oferecer o palhacinho de chocolate, que lhe fazia companhia até à escola.

Reinventar

A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia.
O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo.
Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida.
E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem.
Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.


Mia Couto

quarta-feira, maio 17, 2006

As pessoas mentem. Às vezes porque estão aborrecidas, às vezes porque querem algo diferente, às vezes porque são tímidas e querem sentir-se outras pessoas. (...)

A possibilidade de me tornar igual a todos os outros, não apenas nos meus comportamentos, mas também na minha estrutura interna tornar-me-ia incapaz de sentir coisas reais...

segunda-feira, maio 15, 2006

Hoje

... quero ser pássaro… tocar o céu e ser feliz
Assistir ao nascimento de um ou outro girassol,
À chegada do vento ameno e doce,
Sentir as trovoadas de verão, a tocar-me a face
E dizerem-me que os seixos que moram
em mãos que ferem ... a chuva há-de levar.

Quero ser insecto e … vaguear livre e solto
Pelas ramagens enlameadas que a terra tratou de atulhar.
Quero ser flor para te poder tocar,
se me cheirares.

Quero ser rio, banhares-te em mim,
Sem que o acaso anuncie que eu cheguei.
Quero ser fruto, deleitar-me em tua boca,
Afeiçoado em sabores por descobrir,
Odores a reconhecer, extemporâneos e incontamináveis
Que se concretizarão.

Isto e aquilo,
Pudera eu buscar nestes longos devaneios
A tua essência, a tua alma, a tua sabedoria e,
Transformá-la em meros enleios mirabolantes…
Ah, pudera eu enlevar-me ao saber-te que me conheces!

quinta-feira, maio 04, 2006

O Livro dos Amantes

Pusemos tanto azul nessa distância ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento a escorrer para tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.


Natália Correia

É talvez o último dia da minha vida.

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro

terça-feira, maio 02, 2006

Desencontros

Decidi ir escrevendo num guardanapo o que conheci de ti.
As palavras mais simples escapuliam. Contrastes, opções, desencontros e impressões abandonavam a fantasia para o papel. Uma autêntica carraspana de verbos e adjectivos enchia a folha de papel meio esfarrapada.

Despejaste o pacote de açúcar no cinzeiro sem querer, mas ainda assim cedeste a uma gargalhada. – e logo percebi que alguma coisa te inquietava. Sendo importante não me parece que consigas permitir esse ou nenhum outro momento de delícia a quem te observa.

Naquele feriado chovia a cântaros. Tinhas trabalho por terminar, mesmo assim, saíste de casa. Precisavas de espairecer. De pensar em tudo e, em nada.

Apetecia-te, meditar buscando por fundo, o burburinho do café. Do que vi, o que mais gostei foi, de teu cabelo. Era bestialmente liso e luminoso e assumia em baixo, na nuca, algumas afluências díspares de um acinzado ténue.

Teu impermeável pendurado no bengaleiro, pingava. Sorrias se davas uma passa. Sorrias se alguém entrava. Parecia um sorriso meio agitado. Nunca tinha visto ninguém saborear um cigarro como tu. Pelo menos, relacionar-se assim com eles. A maior parte dos fumadores já não sente o que fuma. Apesar de pensares, constantemente, em deixar de fumar.

Quando te certificaste, que as mãos estavam secas, tiraste um bloco da pasta que trazias e começaste a gatafunhar. Não percebi o que o teu semblante transportava para o registo. Pediste outro café, porque te apeteceu o pequeno chocolate que trazia.Pediste a conta e guardaste o bloco. Soltaste um esgar - por não teres a certeza que eu vá entender a tua letra.

Passaste por mim e voltaste a sorriste de uma forma mordaz. Como que pressentisses a minha curiosidade. A ansiedade que aquelas palavras que escreveras naquele bloco, me provocaram. Vestiste o impermeável e entraste na rua, onde continuava a chover.

Dali a instantes, fiquei lívida. Voltaste atrás. Pensei que me fosses dirigir a palavra. Deixaste a folha meio rasurada em cima da minha mesa e saíste porta fora. Falavas de mim. Um pensamento.

segunda-feira, abril 24, 2006

O Amor também se revolta



Afinal o que é o Amor?
O Amor proclama, reclama, persevera…
Ninguém sabe responder o que é…
Diz-se só que é o que se sente...
…o que nos falta.
É fogo que arde sem ver…já dizia o Poeta
O fogo arde, e até quando …
a camuflagem que usamos, não nos consome a estima oferecida…
Não será assim?

Precisamos de amontoar tantas emoções
De abrigar tantos sentires conformados e impermeabilizados
Em cadafalsos adversos à realidade!

De momentos de consternação que interiorizamos,
Para que nos impeçam de esclarecer,
O que já há muito é fadado.
Opiniões, métodos, idiossincrasias correctas…
À beira dos encantos, vestimos a pele de personagens feitos de artimanhas, de luxúria, de jogos de seduções, de demência, e somos alvo de situações cómico-decandentes.

Criamos chavões e atitudes arredadas,
Eliminamos o que nos percorre as entranhas mais entranhadas …
Não enaltecendo tal e qualquer tipo, a existência, ou então, de que nos serve
Tantos esgares, tantos pressentimentos e, tantas ditas comoções que não são ditas.
Para quê?
Fortuna é só aquilo o que vem no dicionário!
Fado é só um sinónimo, de tantos, que conhecemos?!
Temas eloquentes que ficam só para os entendidos!

Tanto infortúnio para findarmos da mesma forma…
Não será noutros momentos da nossa vida…como a doença ou a morte
Que nos lamentamos do que perdemos, do que interrompemos…
E afinal o que é interromper, o que nem chegou a começar!
O Amor revolta-se…
Dão-se alvíssaras a quem O encontrar…

sexta-feira, abril 21, 2006

A revolta dos pasteis...

Quem não viu ontem a "Re-estreia" em directo da Revolta dos pasteis de nata, aconselho.

Tem novo look , novos actores, novos sketches.

O canal 2 vai repetir os directos de quinta-feira, aos sábados e domingos, à tarde a seguir à hora de almoço.

Ontem o tema era sobre a burocracia. O novo método, tão bem, apelidado pelo Estado português (ehehe) "Simplex".
Vai servir - pensamos todos nós - para desburocratizar os serviços públicos. Vai deixar de acontecer aquela máxima do papel.
- O papel? - qual papel? - O papel! - Mas qual papel?. - O papel.

quarta-feira, abril 19, 2006

Série de culto












Não percam, já, na segunda-feira a 6ª série.

...deixaste um beijo

Sonhava...
Alvoraçada acordei, e deslumbrei.
Ficou o teu cheiro, e a tua graça
deixaste um beijo,
No travesseiro.
Um afago correcto, privilégio doce
Ecos supérfluos...
Palavras desaprovadas, improperadas.
Nunca soubeste o que verbalizar.
Senti apenas uma brisa no ar, foras tu.
Não te julguei, nem te senti
Ao fundo a porta a bater.
Deixaste um adeus
Sei que foi um Adeus… dos que não voltam.

Pensei que o mundo fosse nosso.
Pelo que, o Sol continua a brilhar,
As flores continuam a nascer,
A chuva não pára de cair
Permanece a lembrança…
Deixaste apenas um beijo
No travesseiro.

segunda-feira, abril 03, 2006

Os coracões tb se gastam


«Passamos a vida a fugir de alguma coisa e à procura de outra. O nosso comum destino é chegar e partir.»

«Sempre tive mais medo de mulheres do que de homens, talvez pela mesma razão por que gosto tanto delas: são animais imprevisíveis»

Um conto de Pedro Paixão


Há dias, sabes, em que gostava de ser como o gato e que me tocasses sem desejar encontrar quaisquer sentimentos a não ser o que se exprime num espreguiçar muito lento - um vago agradecimento? - e que depois me deixasses deitado no sofá sem que nada pudesses levar da minha alma, pois nem saberias o que dela roubar.
(Assinar a pele, conto) P.P.

(Saudades de Nova York) - P.P.

Quem não está confuso corre o risco de estar enganado, pior, de se estar a enganar.

(Saudades de Nova York)

sexta-feira, março 24, 2006

liberdade

Hoje, queria tanto ausentar-me de mim, esquecer-me de mim.
Vejo, ao longe, a proeza. Ela pode começar.
Se eu não temer o que não fiz.
Se eu acreditar nos pedaços que posso ter.

O percurso até pode estar certo, aquele que me parece incerto.
Não existem "locais fechados"... só, as chaves certas.
Existe uma porta ao fundo da rua que se chama liberdade,

Não interessa o que sonhamos,
Não interessa o que vemos,
Não interessa que acordemos,
Ou o que poderia acontecer.
Mas para todos os mistérios, há um desvendar.
Não interessa que tenhamos de recompensar fragmentos vitais
Que se revelam ineficazes,

O que pretendo é paz e equilíbrio,
Não quero chorar pela dor ou desespero
Porém, quero lavar a alma e o pensamento.
E seguir em frente para ver o que está para lá dessa porta.
A que chamam liberdade.

pranto

"Nenhuma pessoa merece tuas lágrimas e quem as merece não te fará chorar."

(Gabriel García Marquez)

a força do pudor

Essencial é escrever sobre algo q nos agrada. Discutivel ou não. Abrangente ou não.
Desde que se goste. Não pretendo satisfazer, todas as massas - leitores/curiosos - da blogsfera.
Achei interessante fazer uma pesquisa sobre o pudor.

Eu não sou pudica, raramente, só em situações novas e desconhecidas.

quantas vezes dizemos que: O que não se vê, mas se imagina, é mais provocador do que o que se vê normalmente, porque as circunstâncias fazem com que esse modo simples de se vestir seja o único possível e, portanto, que seja pudico. Nessas condições, a percepção do conjunto da sociedade está habituada a expressar o pudor e o "impudor" sempre dessa maneira.

Por exemplo, num contexto tribal, sem nenhuma cultura nem técnica, as circunstâncias ambientais tornam a roupa inadequada, pelo que, os indígenas, andam quase nus. O pudor costuma expressar-se dissimulando o estritamente sexual, com simples vestes. Mas quando uma mulher quer chamar a atenção do homem, o que faz é precisamente cobrir o peito. O contrário.

Quando as leis do pudor estabeleceram o que define a intimidade corporal, estabelece-se uma união entre a intimidade pessoal e a intimidade corporal. As duas caminham a par, porque a pessoa é corpo e espírito. Quando se entrega o corpo, entrega-se o espirito. E quando se abre a intimidade corporal, abre-se a intimidade pessoal. Separar esses dois factores produz uma ruptura interior da pessoa.

Por esta razão, os que se amam, procuram a intimidade.
..."Não porque vão fazer algo vergonhoso, mas porque a vista não transmite a verdade de um amor autêntico.
O que é expressão de carinho pode ser interpretado como mero uso sexual. E aqueles que se amam não estão dispostos a sofrer a vergonha de semelhantes interpretações.
Só os animais, e nem sequer muitos deles, fazem o acto sexual à vista de outros. A intimidade pessoal autêntica exige uma intimidade e descrição físicas, uma segurança exterior.
Por isso nenhuma representação artística da intimidade conjugal faz justiça à verdade dessa relação. Não é possível uma representação artística digna e moral dessa intimidade.
É inevitável que seja interpretada por muitos, ainda que sem culpa, ao nível da simples prostituição. Quando uma pessoa não se importa com isso, é que perdeu a sua dignidade pessoal. Não lhe resta já uma intimidade a salvaguardar. É puro objecto. "

Num momento, como o actual, em que é tão grande a carga erótica das modas, apregoada através dos meios de comunicação. Eu pergunto como manter uma atitude correcta quanto à estética da sexualidade. Convém aqui recordar que ver não é o mesmo que olhar.

Acho que se refrearmos esses impulsos da imaginação e do desejo teremos um dos meios de auto-educação.
Essas faculdades, servir-nos-ão adequadamente à capacidade de amar quepodemos vir a ter por aquela pessoa. Só essa educação conseguirá integrar os diversos níveis da nossa sexualidade e fazer que o corpo e a mente sejam bons instrumentos do nosso amor.

quinta-feira, março 23, 2006

Dia da poesia

"...A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível.
O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais..."

Sofia de Mello Breyner Andresen,

quarta-feira, março 08, 2006

Dia da Mulher

Se te abraçasse

Largava o teu corpo demorado no meu,
E deitava-me com ele, sem doidices
Só para te ter mais ao pé.

Só partilhava
O sossego das manhãs,
o burburinho das tardes
E a excelência das noites.

E o rouxinol.
Ele parava à beira da janela e,
Contar-me-ia de, existências nobres,

Do gotejar da chuva.
Das danças celebradas aos que abandonam a vida
Em labirintos emaranhados.
Se, ao menos, eu te abraçasse
Ficaria descansada.

Os girassóis cresciam e,
O verão chegava.

E o “amanhecer” jamais se ofenderia
Pelo orvalho.
Se ressentia das noites sem dormir.
Se, ao menos, eu te abraçasse

Podia colher uma flor
Que morria á sede.
Trataria dela como um filho, eu tivesse.
Se, ao menos, eu te abraçasse

terça-feira, março 07, 2006

Emblemas da realidade

Ao ler um texto no outro dia de Pedro Mexia no DN, deparei-me com a sua tão típica dissecação deliciosamente rigorosa, desta vez, à poesia de Rui Pires Cabral – “Praças e quintais”.
E retirei alguns excertos para perceber o que andamos a fazer uns com os outros. Existe, à partida, uma tomada de consciência obtusa e pouco clarividente. Intervenientes como o falta de altruísmo, de determinação e um enorme receio de dar, são uma permanência muito comum.

Outra característica tal-qualmente e que nos é inerente - fugir a sete pés do que acreditamos ou sentimos - ludibriar o nosso próprio coração, pôr em dúvida, e destruir as nossas convicções e ditar sentenças. Acima de tudo, viciá-las, de acordo, com as situações convenientes que se nos deparam na nossa vida.

“… São os percalços que nos fortalecem “…ok. Mas não são eles, também, que nos toldam as emoções, racionalizando-as? E o resultado disso, é criar imediatamente uma estrutura lógica de posições e pensamentos defensivos que, por nos serem desconhecidos ou novos, nos instigam a banir tudo que possa vir a tornar-se insuportável. Mesmo que isso não aconteça. O milagre da vida é estarmos abertos ao inesperado. Não é assim? Para o bom e para o mau.

Assumir os nossos sentimentos e, termos de lidar com eles, apavora-nos. Há quem nem os consiga identificar. “São os percalços da nossa aventura que nos fortalecem…”
“A obscura certeza de termos passado ao lado/De um amor perfeito que o tempo certamente trataria de desfigurar”.
O poeta, fala também, em emblemas da realidade, i.e., incertezas da maturidade.
“Certos sentimentos podem de repente viciar as cores do mundo, ou se lembra a falsa realidade que a repetição empresta às coisas.”
O mais grave é regermo-nos e vivermos de acordos com isso. É como se carregassemos esses emblemas, na lapela do casaco. E damo-nos tão bem.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

mesa de café...

Sem sono. Saio de casa em direcção ao café do Sr. Samuel.
Peço um ballantines. Procuro desesperada um papel e uma caneta.
Afasto o copo para um canto da mesa. E tiro de minha mala os apetrechos necessários, mas no meio de tanta confusão, um costume muito frequente, em nós, mulheres, lá consigo encontrá-los. E escrevo o que me vem à cabeça.

Que rosto terão as palavras, quando os ventos sopram em direcção contrária …
Proteger o peito de rosas, banhar os lábios de paixão, atenuar forças contrárias, mas não basta. Nunca bastou. Será necessário construir de novo os acasos que me cercam, enchendo as noites. Perdi-os.
E a pele estica-se ao máximo e envelhece após qualquer verão crespo.
E se fosse inverno, jorraria dela a mesma viscosidade clandestina, como de quem habita um espaço que não lhe pertence.
E ofender o céu e a lua, seria distanciar-me cada vez mais de mim.
Qualquer atitude definitiva mentir-me-á. Porém, se continuo quieta á semelhança de uma rocha, acabo por impelir a energia no meu coração. Não existe jardim que me cure do travo da revolta. Parecerei uma condenada, sem nome nem sexo, apenas um pedaço de entusiasmo liquido, prestes a ebulir.

Farta de ali estar, rasguei o pedaço escrito da toalha de mesa e guardei-o num bolso.
Pedi a conta. Olhei o relógio. Já era meia-noite e meia. Saí da tasca e caminhei ao acaso, pelas ruas estreitas, confundida nas sombras, escutando à medida que passava pelas portas dos bares, sons variados de batidas quentes. Avançava sem sono. Já eram, mais que, horas de ir para casa.

terça-feira, janeiro 10, 2006

To Grace

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
um do outro havemos de nos lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente.
Cada vez de forma diferente,
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para se viver a vida:
Uma é acreditar que não existe milagres.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

Albert Einstein
(1879-1955)

A criança que fui chora na estrada


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Another year and all the same

A propósito de "dreams came true". E os votos que se desejam para os outros. E as passas que se devem comer. E a cor de cuecas que se deve usar. E os beijos tradicionais que se devem, partilhar. As mensagens que se devem trocar e, tudo, o que é intrínseco à data. Para alguns é um prazer. Para outros, não passa de uma simples obrigação, de uma simples "cortesia”. E só de pensar nisso, faz pena. Não importa, se quem sente prazer, tiver de fazer esse ritual, todos os anos. Vestir as cuecas, comer as passas, saltar de uma cadeira aquando das badaladas, querer um bom ano para os outros. É sinal que as pessoas se importam. Não tem é de ser desta forma: é politicamente correcto conferir esse bem-estar aos outros. Mas, até que ponto pode ir esta hipocrisia, quando essa “politiquice” é fingida. É preferível a diferença, ou a arrogância, de que tantos são apelidados, quando não aprovam o que lhes é desagradável nalguma situação. Não acham que a hipocrisia tem vencido o pódio nas nossas praias? Será que desejamos, mesmo, a felicidade aos outros? Não será permissível a inveja articulada com a hipocrisia, corromper a nossa essência. Ter-se-á, a hipocrisia, tornado uma característica dos humanos fenecendo de um defeito “socialmente genético”. É assustador. No mínimo.

Neste fim-de-semana vi, finalmente, o Dogville. De longe, uma das melhores peças que já vi sobre relações humanas. É uma homenagem, muito bem produzida, às características humanas, ao relacionamento e à grande aptidão que o Homem tem em julgar o próximo. Ora, o julgamento é de longe a arma e a marca mais poderosa, a meu ver, de como somos humanos. Viver em comunidade. É difícil, claro que é. E com todo este poder que fomos desenvolvendo ao longo da vida, vem ao de cima, tudo o que temos de pior. O orgulho, a inveja, a insegurança, a luxúria, o ódio, a vingança. Obviamente, que há mais. E se pensarmos um pouco, todos os pedaços piores lutam apenas, contra um, que nem sempre vence. O Amor. O Amor Universal. O amor sob todas as suas formas. Não deveria ser ele a vencer?

É certo que é um contra muitos. Mas se acreditarmos veemente que “ele” tem mais força do que todos os outros. Deveria vencer. Afinal o Amor não vence tudo. Parece-me, de repente, uma utopia. Deus foi crucificado porque tentou comprovar que existe Amor. “Tantos eram contra ele”. E acabou crucificado, perdeu a sua credibilidade e ainda foi gozado. Portanto, quando se diz que o Amor vence tudo. Não é bem assim. Afinal, de que andamos a fugir, se necessitamos de nos defender com armas tão decadentes e tão pútridas.
E mais um ano promete vincar todas essas opções, senão desenvolvidas, preocupar-nos-emos em desenvolvê-las.