segunda-feira, fevereiro 28, 2005

intimidade


Intimidade do silêncio

Reclamo por interpretações desgastas,
Murmuro em estranhezas que me moldam esquiva,
enfraqueço com leituras e códigos desconfiados,
e afigura-se alguma razão em cortejar sinais,
e símbolos que se afeiçoam a desconforto e trivialidades.

O silêncio não existe,
Mas o trajecto a caminho dele, sim.
A intimidade do silêncio.

A cumplicidade não existe, conquista-se.
Senão, quem és tu? Acho que nunca te vi
Existes, só, para lá do meu conceito,
Da minha vontade.
E todos os dias, abres mais, uma fresta
E não te encontro
Peço ao vento que te traga,
Peço à sorte que te fale,
Peço ao imprevisto que te adule,
Peço à poetisa que te declame;
E depreender e enrolar-me, na tua essência,
Na tua íntima fracção
E olhar-te na confortável insuficiente capacidade e ficar sublime
Ao perceber a tua beleza,
A intimidade do silêncio.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Feira da Ladra vista por Sérgio Godinho

É terça-feira
E a Feira da Ladra
Abre hoje às cinco
Da madrugada

E a rapariga
Desce a escada quatro a quatro
Vai vender mágoas
Ao desbarato

Vai vender
Juras falsas
Amargura
Ilusões
Trapos e cacos
E contradições

É terça-feira
E das cinzas talvez
Amanhã que é quarta-feira
Haja fogo outra vez

O coração
É incapaz
De dizer "Tanto faz"
Parte para a guerra
Com os olhos na paz

É terça-feira
E a Feira da Ladra
Quase transborda
De abarrotada

E a rapariga
Vende tudo o que trazia
Troca a tristeza
Pela alegria

E todos querem regateiam
Amarguras
Ilusões
Trapos e cacos e contradições
É terça-feira
E a Feira da Ladra
Fica em fim quieta
E abandonada
E a rapariga
Deixou no chão um lamento
Que se ergue e gira
E roda com o vento
E rodopia e navega
E joga à cabra-cega
É de todos nós
E a ninguém se entrega

Música e letra de Sérgio Godinho

Por onde andei....II

Quem não se recorda de se levantar de madrugada aos sábados e ir pela fresquinha até à feira da ladra para vender peças de roupa velha, livros que nos vão enchendo a casa com o passar dos anos, o nostálgico vinil que nos dá jeito feirar para se arranjar uns trocos, alguns sapatos e botas que passaram de moda, velharias que ocupam espaço lá em casa. Lembram-se do ritual? Pintávamos a manta e como nos divertíamos. E fazíamos dinheiro.
A convivência e o companheirismo que se criava com os restantes vendedores eram extraordinários.
Uma feira, muitas vidas, muitas histórias! Esta é uma das mais antigas feiras lisboetas. Uma feira com uma indiscutível variedade de objectos e pessoas, esta é uma das mais típicas feiras de Lisboa, e talvez quem sabe de Portugal.
A Feira da Ladra existe há 900 anos. Em 1185 começou por se chamar Mercado Franco de Lisboa, depois "Chão da Feira" e só por último Feira da Ladra. Também já foi chamada de "Feira das Almas", dado que a Feira tinha o seu ínicio ainda de noite, sendo então necessário acender velas para iluminar as bancadas. Essa luz produzia um ambiente tão fúnebre, que as pessoas diziam que por ali andavam almas do outro mundo. Ainda hoje a tradição se cumpre, a Feira da Ladra começa realmente cedo. Actualmente os vendedores são ligeiramente diferentes dos de antigamente, na altura as pessoas aprontavam-se para irem à Feira, pois era um local onde só se via gente bonita e bem vestida. Actualmente, a feira é frequentada por todo o tipo de pessoas, jovens que procuram roupa fora do comum, CDs de música ao desbarato, e, com o pouco dinheiro que têm, podem comprar variadíssimas coisas. Pessoas de diferentes idades frequentam a Feira indo à procura de peças para reparar outros objectos e por vezes Lp's antigos .

Por onde andei....



Freguesia de Santo Estevão, a visitar.


Começa-se pela igreja que está fechada há anos, pelo que vi, vandalizada nem sei por quem. Dá pena. No largo da igreja há um miradouro lindissimo com vista para o Tejo. Passei lá grande parte da minha infância. Todos os dias de manhã saía com a minha avó que trabalhava como mulher a dias numa casa na Costa do Castelo - tudo ali perto, a jeito - ela deixava-me na escola e a seguir ao almoço, aliás, almoçava já numa cantina anexa à igreja e as tardes eram preenchidas com actividades extra-curriculares. Na altura, acho que não se chamava isso. Portanto aminha infância foi entre as escolas gerais e a rua e igreja de santo estevão. Ah, o chafariz de dentro...


O Santo que deu nome à Freguesia
Reza a história que Santo Estêvão era um diácono judeu, que falava grego e foi considerado o primeiro mártir cristão. Ficou conhecido pela sua forte personalidade, conhecimento e eloquência, razões que levaram os apóstolos a confiarem-lhe a distribuição das esmolas aos fiéis.
A capacidade de pregador de Santo Estêvão motivou grande aposição e até alguma hostilidade, acabando por ser diversas vezes denunciado à assembleia de judeus, também conhecida por Sinédrio. Apesar das explicações e justificações, foi denunciado como blasfemo, levado para fora da cidade e apedrejado até à morte. O Santo Estêvão, que dá nome à Freguesia, é festejado no dia 26 de Dezembro
.


Chafariz de Dentro
O Chafariz ou Fonte dos Cavalos ou de Dentro é uma nascente muito antiga e a referência mais antiga que se conhece data do ano de 1285. Este símbolo arquitectónico do bairro foi também denominado noutros tempos de Fonte ou Chafariz de Alfama. Numa das suas crónicas, Fernão Lopes esclarece que as bicas deste chafariz – que os castelhanos quiseram levar como memória depois do saque à cidade em 1373 – tinham o feitio de cabeças de cavalos em bronze.
Há ainda várias referências histórias que apontam para que debaixo do chafariz existisse um lago. De facto, encontram-se no local duas casas de água, cada uma como a sua nascente. Uma é a do Chafariz de Dentro, onde está uma arca de água, a outra é a do tanque das lavadeiras, no Beco do Mexia.

Alfama e os seus becos








Alfama ao longo dos tempos

Os primeiros vestígios em Alfama são de uma ocupação Romana, que terá definido a primeira organização do espaço urbano. Os romanos chegaram a Olisipo no século II a.c. e a sua ocupação manteve-se até ao declínio do Império, em meados do século V d. c. Durante a sua estadia, aproveitaram a característica naturais do espaço, como a abundância de água, para construir equipamentos colectivos como banhos e balneários.
Nessa altura, Alfama estava inserida numa parte da cidade que assumia um papel estruturante e servia de acesso às chamadas vilaes . A Rua de São Pedro, que se estende pelo Largo do Chafariz de Dentro e pela Rua dos Remédios é um dos exemplos dessa importância.
No século VIII chegam a Olissibona os árabes, atribuindo-lhe o nome de Lixbuna, que mais tarde – aquando da reconquista cristã – derivou para Lisboa. Esta foi a civilização que mais marcas deixou na malha urbana de Alfama. As ruas largas dão lugar a ruas estreitas e não nos podemos esquecer que foram os árabes que atribuíram o nome a Alfama, lugar com abundância de água.
Em 1147 D. Afonso Henriques conquista Lisboa. Alfama manteve a sua estrutura e era agora um local conhecido por albergar os delinquentes e os menos afortunados. A cidade expande-se então para Norte e Oeste e Alfama, por se situar junto ao rio, começa a servir de alojamento a muitos marinheiros. Devido à sua falta de espaço, o bairro começa a crescer em altura .
Já no século XIX, Alfama era um local destinado à demolição. Contudo, alguns anos mais tarde, assume um papel histórico-cultural relevante e começa a ser vista como um ponto importante na cidade de Lisboa. Até hoje... E ainda bem.


http://www.jf-santoestevao.pt/

http://www.esec-filipa-lencastre.rcts.pt/jornal/ed3/ed3p16.htm

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Ainda Leomil




Leomil e a Picota




Leomil, para quem não sabe, já se chamou Serra da Nave, ou Lobagueira.

Hoje é, Vila de Leomil e cheia de encanto e ternura beirã. Belos sítios recônditos se encontram, por lá e, tantas e tantas estórias de meninice, têm para contar. Vivem no tempo e permanecem à vista das paisagens, riachos, ruelas ínfimas cheias de varandas com sardinheiras e amores-perfeitos. Só visto. A Capela rodeada de casas em granito. O Pelouro com uma fonte onde se pode bebericar alguma água. À sua chegada encontra-se o Largo com o seu coreto tão bem esboçado. E a Picota que já brincou com tanta criança. A Igreja que dá à vilinha o seu cunho cristão e beirão. A poesia vagueia por lá. Podem crer que sim.

Pertence ao concelho de Moimenta da Beira do Distrito de Viseu e localiza-se na região da Beira, mais precisamente, numa região denominada de "Planaltos Centrais".
O seu clima é fabuloso principalmente no Verão, os meses prolongam-se de Maio a Setembro, e chegam a atingir temperaturas superiores a 25ºc.
De uma forma geral, ocorre maior precipitação em Fevereiro e menor em Agosto.
O clima é bastante pluvioso com precipitações anuais médias que variam entre os 800 mm e os 1400 mm. A ocorrência de nevoeiros não é significativa, mas acontece regularmente ao longo do ano, geralmente nos meses de Janeiro e Dezembro.
As geadas são mais frequentes. No que respeita à humidade, as primeiras horas da manhã, com valores elevados.
Rica de passado histórico, tem abundantes fontes históricas espalhadas por diversos arquivos do país, não tivesse sido ela, sede de um dos mais célebres coutos medievais portugueses, e vastíssimo concelho extinto em 1855.

Esta graciosa Serra entre os Rios Paiva e Távora e pertence ao Maciço Galaico-Duriense. O seu ponto mais alto atinge os 1011 metros de altitude. É formada por ondulações com uma vegetação onde é visível o pinheiro, a giesta, a urze, o rosmaninho, o sargaço e é muito agradável subir ao ponto mais alto da Serra, uma vez que se nos depara a grandiosidade e beleza da paisagem que se alonga em todos os sentidos até aos Vales do Tedo, Paiva e Távora, até às cristas das serranias que se avolumam lá ao longe, como é o caso das Serras do Marão, da Estrela, do Caramulo e Montemuro.

Leomil ressuma as idades da terra e os jeitos de civilizações primitivas e clássicas, visíveis nos dólmens, restos de estradas romanas, cruzes e alminhas, fundações de castros e de mourarias, pedras de cunhais, portas, eirados, cornijas de antigas casas e capelas, palavras e nomes celtas, romanos, godos, árabes, recordações do oriente, do levante, da Europa Central, do Norte de África, tudo se encova e rescende nas chãs e lombas de Leomil desde os ritos duídicos às eras da Cristandade, evocando pantaismos e mitologias, gestos bizantinos, românicos, góticos, renascentistas e barrocos, fundidos no ar, no silêncio das cumiadas e no espraiado colorido das veigas em que corriscam como estrelas, as àguas do regadio.


Existe outra vila com o mesmo nome e que pertence ao concelho de Almeida

FLOYD...TO BUDAH




Wish You Were Here
Composição: Roger Waters

So, so you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skys from pain.
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears.
Wish you were here.


...uma das minhas favoritas

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

E o poder do chocolate







...Não nos esqueçamos do poder do chocolate. Ele é feito das sementes da árvore do cacau.

Chocolate is made from the seeds of the tree Theobroma cacao. Theobroma is Greek for 'food of the gods'. The ancient Aztecs venerated the cacao tree and used its beans as a form of currency. They saw the tree as a source of strength and wealth and assigned their god Quetzalcoatl its guardian.

Ide só ver as curiosidades e potencialidades que o chocolate tem.
http://www.bbc.co.uk/science/hottopics/chocolate/index.shtml

Assim como a história da semente, do cacau. Deveras interessante.
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/especiais/frutasnobrasil/cacau.html

Misturas e comezainas

Existem algumas frases - clichés - que ouvimos da nossa boca e dos outros, em contextos completamente diferentes. Contudo, alguns têm fundamento.

... Nós somos o que comemos.
... A forma como comemos, assemelha-se à forma como praticamos sexo.

Por exemplo, a comida e o sexo estão, obrigatoriamente, interligados. Todos nós sabemos isso. A forma, a abordagem, o ambiente, o sentido de liberdade, a auto-revelação, o ritual de saboreamento, as feições ou jeitos e até prazeres em "comer". Tantas vezes nos acontece dizermos que aquele manjar nos deleitou de forma e maneira, que nem nos ocorre que a comida nos pode provocar orgasmos. Mas é verdade. A sensibilidade começa e é muito importante, se conseguirmos concretizar essa ideia.


Da maçã proibida que expulsou Adão e Eva do Paraíso, passando pela maçã irresistível que adormeceu Branca de Neve, até aos saborosos cachos de uvas usados por Jack, o Estripador, para conquistar as suas vítimas, muitos alimentos são personagens principais nas histórias de conquistas e sedução. Isto sem falar nos banquetes servidos por Cleópatra aos homens que pretendia seduzir politicamente e nas orgias realizadas nos grandes banquetes das cortes européias, como a de Luis XIV, o Rei Sol, que misturava negócios e prazeres íntimos entre os pratos servidos.

A Afrodite, um dos livros de Isabel Allende fala disso. Afrodite, na mitologia grega, era a deusa da beleza e da paixão sexual. Digamos que o livro é ... afrodisíaco? trata de qualquer substância ou actividade que desperta o desejo amoroso. Será que existem mesmo alimentos afrodisíacos? Ou talvez o simples facto de se saborear uma refeição gostosa já tem em si uma carga tão grande de prazer que nos faz atingir o êxtase?


“Como definir um afrodisíaco? Digamos que se trata de qualquer substância ou atividade que desperta o desejo amoroso” “Afrodite” de Isabel Allende

“Os afrodisíacos são uma ponte entre a gula e a luxúria”.

Outro livro que desperta o desejo sexual é "Como Água para Chocolate”, de Laura Esquível.
Desejo sexual, cheiro de cravo e canela e filmes de dar água na boca.

Privadas de voz ativa e de prazer sexual, no passado, era na cozinha que as mulheres depositavam seus desejos e frustrações como a Tita (Lumi Cavazos) do filme “Como Água para Chocolate”. O movimento feminista afastou as mulheres da cozinha e aproximou-as do sexo sem culpa e do sucesso profissional.

Hoje, as mulheres voltam a ocupar seu lugar atrás dos fogões (compare a Tita com a independente personagem de Juliette Binoche, no filme “Chocolate”), perderam o medo de buscar o prazer, seja na cozinha ou na vida profissional, e colocaram o seu poder de sedução em prática. A mulher de hoje descobriu que pode ser independente sem perder sua sedução e que neste sentido, a paixão pela cozinha pode até ajudar, como é o caso da Isabella (personagem de Penélope Cruz) em “Sabor da Paixão”.

...doce alentejo





... quase Vila de Panóias





Quem se lembraria de botar este nome a uma aldeia, que é - note-se - quase vila.
Panóias, freguesia de Ourique, concelho de Beja. Um cantinho pitoresco e pachorrento, como se quer em qualquer aldeia alentejana. População: 634 habitantes com uma área de 11.035 hectares. Habitação: casas baixinhas com predominância de azul e amarelo. Apesar de pequena, é asseada e acolhedoramente caprichosa.
Um cantinho de Portugal que, ainda, se mantém bem cuidado pelos locatários e que primam pela simpatia. Hoje, quem a visita sente-se acolhido e é um local onde se respira hospitalidade e amizade.

A minha avó Clotilde nasceu nesta aldeia. O meu pai e os meus bisavôs, enfim, grande parte da família de meu pai nasceu e viveu lá, durante muitos anos. Noutros tempos, era difícil. Uma família de poucas posses. Os meus bisavôs passaram por muitas provações. Conta a minha avó, que suportaram fome e frio. Os pais dela trabalhavam de sol a sol, juntamente com os seus seis filhos para terem que comer e que vestir. Viviam do campo e do que a natureza produzia. Tinham um quintal onde cultivam batata, feijão, cenoura, alface, couves, nabos. Também havia pouca carne. E a que havia, nem se lhe podia chegar, pois era excessivamente cara. O dinheiro não chegava para tudo. O meu bisavô e avô, viviam de cortar cabelos. O meu pai aprendera o ofício, tal-qualmente lá. E toda a sua vida, fora barbeiro.

Ao lado da casa havia um quintal, onde o meu bisavô construíra um pequeno anexo. Nesse anexo, existia um forno. Onde faziam o seu próprio pão. Começaram por vender para fora. Bolinhos e outros biscoitos faziam parte do preçário. E esse costume e ofício acompanhou a minha avó, durante largos anos. Se bem que, hoje em dia, lhe falte as forças, ainda faz os tradicionais folares a saber a erva-doce pela Páscoa e as tão deliciosas filhoses pelo Natal e pelo Carnaval. Tradição da sua terra.
Todos os anos, sem excepção, me pede para ir visitar a sua aldeia. Começa a ter necessidade em contemplar lugares, de recordar pessoas que já faleceram, de confidenciar coisas que lhe aconteceram. E é extraordinária, a sua lucidez. Conta sempre estórias novas, nunca ou quase, nunca repetidas. Uma excelente companhia. Não deixa de ser uma grande referência na minha vida. A minha estrela da sorte.

Passei alguns verões, quando andava na escola e tinha aquelas big-férias de três meses. Todos tínhamos. Portanto, as recordações que tenho são as melhores. As únicas referências que encontrei a esta aldeia, são fotografias da Escola Básica que existe e pouco mais, e é pena. Recolhi algumas fotografias.
Na busca que fiz no google, encontrei outra vila com o mesmo nome, mas em Vila Real, Trás-os-Montes.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Senso



Arredas e crias espaço, naquela região, onde te não consigo ver.
De mim não sei, brevemente te perco.
Ou foges de mim, tento compreender e é tarde.
A noite não tarda a cair e, atas as amarras do meu semblante.
Já não te consigo ver.
Deixa-me ir contigo, nem que me cegues com a luz que emanas.
Mas deixa-me ir. Não sei viver com a minha penumbra.
Se te sentir a meu lado, bastar-me-á, para ser feliz.
Já não te consigo ver.
Deixa-me ficar só com a imagem que me viciava,
Resta-me o teu cheiro e os contentos.
Entretenho-me num esboço dos teus limites,
Quando me extasiavas os declives e,
tornavas devassa, a planície de meu corpo.
Deixa-me esse espaço. Ou então deixa-me ir contigo.

animação por Vasco Granja



... Posso estar com um ataque saudosista. E porque não? E sabiam disto?

Ele é uma figura para recordarmos, e incontornável na animação portuguesa. O homem que nos trouxe a pluralidade desta arte, mostrando obras que iam desde o Canadá até à Checoslováquia, quando o Leste ainda estava fechado por uma cortina. Uma vida rica que começou em 1925, cinquenta anos antes de surgir na RTP. A sua relação com os movimentos de oposição ao Estado Novo e ao Partido Comunista Português valeram-lhe duas prisões pela PIDE, mas nem por isso deixou de estar presente no primeiro festival mundial de Animação, em Annecy, França, nos anos 60.

Em 1974 inaugurou um novo programa na televisão, "Cinema de Animação", que duraria 16 anos. Foram mais de mil programas em que mostrou de tudo um pouco, desde a animação norte-americana, canadiana e europeia até aos países de Leste. Logo em 1975 concebeu um curso de Cinema de Animação, do qual germinaria a Associação Portuguesa de Cinema de Animação. E durante tantos anos, nos deliciámos com a animação do Granja.

E diz-se que é o pai da pantera cor de rosa, que não utilizava vozes.

Trabalhou também em publicidade. O seu primeiro contacto com a publicidade foi nos Armazéns do Chiado, que consistia em fazer os cartazes para as montras. Os Armazéns tinham muitas montras, e ele tinha que pintar os cartazes, fazer os anúncios de saldos para a imprensa, quando havia novidades, tecidos novos. Foi quando passou a ocupar-se da secção de publicidade.

http://www.amordeperdicao.pt/especiais_solo.asp?artigoid=117

http://www.amordeperdicao.pt/especiais_solo.asp?artigoid=122

Algumas curiosidades na vida de Vasco Granja

...ainda pipi das meias altas

A propósito de Astrid Lindgren
http://www.instituto-camoes.pt/escritores/saramago/contentotodos.htm

" Este ano, porém, nem sequer a amarga realidade de só nove mulheres terem sido distinguidas com o Nobel de Literatura durante a já longa história do Prémio (entregue desde 1901), deu azo a que se ouvisse o mais brando protesto contra o laureado luso. Milagre? Sem dúvida, porque há dez anos que existe na Suécia uma forte candidata a ele - a escritora de literatura infantil Astrid Lindgren, mundialmente conhecida pela sua Pipi das meias altas e muitas outras obras que deliciam a miudagem do mundo privilegiado onde a criança tem acesso a livros. Com os seus belos 90 anos, é caso para admitir que Astrid Lindgren, tal como o nosso idioma, tenha de esperar também o seu seculosinho para auferir a distinção que agora coube a um escritor de língua portuguesa. "

...a sueca das meias altas



....falam falam, mas não os vejo a fazer nada. Não é o gato fedorento, não. Queixam-se que a televisão, de uma forma geral, só dá porcaria. Perdeu a qualidade, salvo rara excepção. Existem programas didácticos e alguns interessantes, se pararmos pelo canal 2. Mas quem é que se preocupa em ver - estar atento - e transmitir essa cultura, também, aos mais pequenos. Muito pouca gente. Pois, eu acredito que tem a ver com a cultura de cada um. Que se pode cultivar. É só existir um pouco de cuidado e de incentivo. A nossa formação começa e é desenvolvida, de muito pequeno, nos e pelos nossos pais. Nos desenhos animados é a mesma coisa. Experimentem perder um tempinho e correrem os canais, inclusivamente, os da TV Cabo e é só violência, sangue, sexo. Os ingredientes corrosivos e caústicos que servem de base à formação dos futuros jovens. Claro que temos sempre o canal 2 que, de alguma forma pequena, não de todo suficiente, colmata essas falhas. De resto, é tudo porcaria dispensável mas que eles retêm. E utilizam-na no dia a dia. O mais grave, quanto a mim.
Na época de 50/60 existiam outros desenhos animados menos violentos e pelo menos, mais educativos. A pipi das meias altas marcou a minha época. Mas quem não se lembra dela. Na altura enchia os écrans e a nossa cabeça, com outro tipo de valores que deixaram de viver connosco. Provavelmente, as crianças ou os adolescentes de hoje, dir-me-iam que é uma treta. Mas a questão aqui, não foi só relembrar a época, na qual existiam projectos de programas instrutivos, assim como os desenhos animados tinham como finalidade; construir a cabeça das crianças de uma forma mais construtiva e não tão destrutiva, como hoje acontece, para eles e para os que os rodeiam.
IUPI IUPI!!! pipi

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Luís Sepúlveda

Um dos meus escritores preferidos, não podia deixar de ser referenciado neste blog. Estou a falar de Luís Sepúlveda com livros tão bons e ilustremente expressivos. Comecei a reler um livro que, por acaso, está comigo e não é meu. As rosas de atacama. São histórias marginais, como ele lhe chama. São estórias soltas de pessoas que conheceu ou de situações ou lugares que vivenciou. Logo, na primeira estória "historias marginais" ele fala do sofrimento e das atrocidades cometidas em Bergen Belsen. Num de tantos campos de concentração onde foram vítimas, tantas e tantas pessoas, sob a ditadura de Hitler.
Sepúlveda esteve nesse campo. Visitou os fornos crematórios e esteve em camaratas onde lhe parecia cheirar, ainda, a morte. Tantos anos depois.
Faz menção ao caso de Anne Frank, e ao seu diário, que se tornou tão conhecido. http://www.starnews2001.com.br/anne-frank/anne-frank.html.

Todavia, morreu muita gente que não se tornou conhecida. Já dizia Goebbels: ... que as mortes eram uma simples estatística! Sepúlveda, aquando da sua visita a este campo deparou-se com uma inscrição gravada, provavelmente, com uma faca, ou com um pau onde dizia o seguinte: "Estive aqui e ninguém contará a minha história" - ele relata, como sendo uma das situações que mais o impressionou.
Aconselho a conhecer a obra impressionável de Sepúlveda.

Arthur Miller

http://www.pbs.org/wnet/americanmasters/database/miller_a.html

Morreu aos 89 anos um dos dramaturgos americanos mais notáveis dos últimos 50 anos, Arthur Miller. Nunca li nada sobre ele. Só sei o que ouvi nas noticias. Foi casado com a Marilyn Monroe de 1956 a 1961. E que sofria de cancro, pneumonia e problemas cardíacos. E que uma das peças mais famosas, A Morte de um caixeiro viajante, foi encenada no Brasil. Outra tão ou mais importante dado a intenção para a qual foi criada : As bruxas de Salém. Parece que terá sido escrita em resposta ao senador McCarthy e à cruzada que o Comité de Actividades Anti-americanas do Congresso realizou contra simpatizantes do comunismo.
Na altura do 11 de Setembro, também se mostrou preocupado com as medidas de emergência adoptadas pelos Estados Unidos. Uma vez que, a legislação adoptada previa que os não-americanos acusados de ajudar o que os Estados Unidos consideram "terroristas inimigos do país" poderiam ser julgados em tribunais militares.
Em entrevista à BBC na época, Miller disse que temia a erosão dos direitos civis nos Estados Unidos. Pensava-se e parecia que o governo americano "estava a aproveitar-se" da situação para aumentar o seu poder sobre o indivíduo. That´s all folks!!! À boa maneira americana

Perto demais...

Fui ver o fds passado o filme CLOSER. A primeira impressão foi estranha e esquisita. Nem sabiamos bem o que pensar do filme. Quais as conclusões. Quais as ilacções a extrair. Bom, o que é facto, é que falámos um pouco sobre ele e, não conseguimos chegar a lado nenhum. A única palavra comum que nos saía da boca: relações. Sim, o filme era sobre relações, mas o mais interessante, e que não me tinha apercebido, é existir nele um grande paralelismo com a actualidade. As relações, hoje em dia, são mesmo estranhas e complicadas. Passamos o tempo a deslumbramo-nos com alguém que pensamos ser o tal. Logo a seguir, vem o desencantamento, a decepção. Ou conhecemos outra pessoa e pensamos, que afinal é aquele, o tal, e não o outro. Apaixonamo-nos e desapaixonamo-nos com muita facilidade. Andamos à procura do impossível. Da perfeição. Do que não existe. E nem sequer lutamos pela possibilidade da perfeição. Como é possivel dizer-se a alguém "Amo-te" se, a seguir nos encantamos com outra pessoa. Não se faz cedências. Não há tolerância. Não há, acima de tudo, respeito e verdade nas relações. Não pode ser amor. Aliás, o filme não vem relevar novidade. Confirma o nosso egoismo, narcisismo e a preocupação de cada "eu" ser feliz. E mais nada.
Existe primeiro, um grande auto-desrespeito e desrespeito entre casais, onde a verdade e a cumplicidade são completamente estranhas. Desculpem-me a expressão: Andamos a passar o tempo, uns com os outros e de mão em mão.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Já é tarde .... mas



... para se fazer homenagem às vítimas do Holocausto, jamais: Treblinka....Birkenau.....Auschwitz
Não quis deixar passar em branco, a nota mencionada no Público, após 60 anos.

http://dossiers.publico.pt/dossier.asp?id=1383

http://dossiers.publico.pt/shownews.asp?id=1214254&idCanal=1383

Para a esquerda os que vão morrer, para a direita os que estão aptos a trabalhar

"Ainda trazem as suas roupas vestidas, algumas mulheres seguram sacos nas mãos. São judeus húngaros acabados de chegar. Era o final da Primavera de 1944. A grande maioria deles não viveria mais do que algumas horas depois do momento em que um oficial das SS tirou esta foto."

"Era naquele cais que a vida e a morte se decidiam, com um gesto rápido de um dos oficiais nazis. Para a esquerda iam os que iriam morrer naquele mesmo dia, geralmente os mais velhos, as mulheres, as crianças, os doentes. E para a direita os que ainda estavam aptos a trabalhar. Para estes a esperança de vida era de alguns meses".

Relíquias esquecidas ou pouco lembradas



http://www.ancruzeiros.pt/anclfarois.html

http://dn.sapo.pt/2005/01/16/artes/a_arquitectura_farois_portugueses.html

Em conversa com uma amiga, deparei com uns depliants que ela tinha na secretária sobre faróis portugueses. Ela está a fazer uma colecção para o pai que sai num jornal diário, creio eu - não me lembro do nome - e , senti curiosidade, seria bom ler alguma coisa, sobre.

Sabiam que em Portugal, o primeiro farol acendeu-se na Torre do Convento de São Francisco, no Cabo de São Vicente, perto de Sagres, em 1520. Só no continente existem 13 faróis.

As ilhas da madeira e dos Açores começaram a ser alvo de atenção apenas em 1870, com a construção do farol da ponta de São Lourenço, na Madeira, seguindo-se em 1876 a ponta do Arnel, em São Miguel e no ilhéu de Cima de Porto Santo, em 1900.

Entre 1908 e 1927 foram construídos 16 faróis no Continente e Ilhas. Nestes últimos, já funcionando com células fotovoltaicas, começou em 1981 o uso de energias limpas, iniciando um novo ciclo onde também a automatização faz a diferença.

É de facto, uma grande invenção. Um extraordinário utensilio que prima pela aproximação.

Palavras inclinadas




Demoro sempre pelas que cantam, as que sobem e baixam... As inesperadas...
Aperto algumas, subitamente, ditados, sentenças e termos amados...
Brilham como seixos luzidios e saltam como trutas nos rios...
Algumas são tão belas que quero segurá-las em voo;
Outras são possantes e puras como frutas,
E bravas como restos de naufrágio, e mais além o universal torna-se comum.
São doces, escuras, transparentes, penosas e criam raízes..... Vivem na bonina, apenas, desabrochada e exaltam aquele apetite voraz que nunca se viu, mas perdem-se no tempo que costumamos esquecer.
São guerreiras, ferem a inaplicabilidade de meras sínteses.
Outras ausentam-se incompreendidas nas trevas do nosso íntimo.
São culpadas víeis couraçadas e enclausuradas, pela indiferença teimam a sobreviver.
São postas de lado, não carece, e inadvertidamente são guardadas, ganham vida, e desforram-se na inexplicável letargia serôdia.
Evaporam-se em qualquer pensamento e deitam-se a dormir.
Outras mais gélidas permanecem na conveniência do nosso consciente, prontas, nunca as ponderamos e seguem peregrinas. Morrem à chegada. Modos sábios nas sebes da intimidade, pois vagueiam na insuspeição da nossa recusa passível, quanta semelhança. Nascem Amadas! Repudiadas! Rendidas! Atraiçoadas! Sentidas! Inclinadas!

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Vermeer





http://www.pitoresco.com.br/universal/vermer/vermer.htm

A preto e branco



Espreito e ainda te desejo. Tento escrever no teu corpo, ao longe, nu.
Já é noite. Procuro a cor que te fica bem. Melhor. Estás a preto e branco.
Afinal, é triste presenciar um corpo que se afasta e morre em si próprio.
A melodia que, outrora, tinhas, arrasta-se em palavras expostas e sem cor.
Procuras silêncio. O teu silêncio.
Destapo a vergonha que sugere no imenso delineamento dos contornos,
E caminho do teu rosto para a infinidade, no chão dos meus olhos,
busco paz e serenidade ao tocar-te ...
conquisto o conceito contemplativo da espiritualidade ...
Vejo-te a preto e branco.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

...onde posso ser eu

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Alguém escreveu: "um dia destes encontro-me".....Já me aconteceu. Por momentos. Estive comigo e senti-me detentora da vida. Mas perdi-me logo a seguir. Em questões de auto-análise, a demanda do eu é algo que, poucos, conseguem e sabem fazer. Perdi-me de vista, algures, e nunca mais acreditei que me pudesse (re) encontrar e (re) conhecer. A capacidade está na força e resistência à luta que travamos da aceitação do nosso eu mais empobrecido. (Re) encontrei-me em coisas tão banais quanto as pinturas vivas e plenas de cor e perfume das planícies alentejanas, em confortos varonis de fim de tarde escurecendo praias soalheiras e inexploradas pelo Homem onde ainda se desfruta da linguagem deleitosa que o mar tem para nos oferecer, ou em terreno estranho, sentindo cheiros novos e mistos. Combinados de mesclados que se misturam com gentes e culturas genuinamente diferentes. Realizo-me, onde posso ser eu., e onde sinto apreço pelo vivencial. O eu mais recôndito e tímido anuncia-se e desperta em mim uma euforia, como se passasse para um estado completamente infantil e afortunado. Podemo-nos encontrar nestas situações simples, e que parecem não ter nenhuma importância. Renegar ao instinto mais básico, é não acudir à e irrequietude, perseverança e irreverência e dispensarmos a espontaneidade mais instantânea da vida. Onde posso ser eu!

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Experimento

Afinal, tenciono chorar. Tento. Deixei de contemplar. Planeio um sorriso. Rascunho um cheiro que me apetece. Tento amar o tino. Experimento sentir. Estas, parecendo, banalidades inatas, têm-se tornado significativamente essenciais. Residem emperradas. Rodeiam as acções e os verbos e substantivos, e captam vida ao deambular na mente de uns para brotar na de outros. Não se soltam, por receio do infortúnio ou por adquirem a capacidade de se auto-julgarem. Afinal, o que é o julgamento? Só sabemos que vivemos sob o seu tecto. E por mais que se ignore, existe a denúncia ao nosso próprio fim. Imagino incertas e diferentes escadas para cima e para baixo, sem que nelas existam patamares, e vingam com particular astúcia, a sua actividade. O não conseguir ultrapassá-las. Desconhecê-las. Revelam-se estranhamente esquivas.O feito seria ultrapassar simples estorvos e vislumbrar o seu reconhecimento, face aos nossos empenhos, aos quais, mais lúcidos se tornariam, se não nos rendêssemos à costumagem fosca e enraizada do nosso pequeno grande (i)mundo.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

pelo Belo...

Tenho vindo a reparar na campanha publicitária da Dove. Suscita curiosidade a qualquer um. É obrigatório parar. No mínimo, são campanhas provocatórias. O que é a beleza real? Põe em causa e incita a, toda uma série de definições de estereótipos limitados e sufocantes de mulheres escanzeladas. Começa-se a acreditar que a beleza real pode ter várias formas,idades e tamanhos. Penso que é altura de se acabar com mensagens e recadinhos que acirram, denegrindo a imagem das gordas. Força, Dove!!!

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Dependência incondicional.....

Os computadores funcionam como um mal necessário. Uma droga com a qual não podemos passar, e não adianta evitá-la. Criam dependência e são extraordinariamente irritantes. Naquelas alturas em que precisamos, de facto, deles para trabalhar mais afincadamente, pifam ou dão erros estranhos e novos. Ou perde-se informação ou desliga-se sozinho. Parece que adivinham mais empenho por parte do utilizador. Erro disto, erro daquilo. Funcionam como uma praga necessária, são como as garças quando comem os insectos e limpam os excessos do pescoço do rinoceronte. Grrr!! Ou então, não me lembraria doutra melhor, quando as osgas devoram as melgas e os mosquitos nos alpendres de nossas casas. Grrrr!!!!