"A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais..." - Sofia de Mello Breyner Andresen,
terça-feira, março 29, 2005
Fugir para quê
Quaresma
Nem a propósito, no meu último post, nem era próprio, nesta época, fingir-se os orgasmos. Impõe-se, - passe-se a expressão - deixar de fazer algo que se considerasse prazeroso.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quaresma
Ao fazer uma busca pela palavra Quaresma tropecei num link sobre um filme de José Álvaro Morais.
«(...) É ainda à volta da grande burguesia rural portuguesa (ou melhor, dos restos dela, ou seja, do estatuto, que sobretudo a enclausura) que o filme passa-se - na zona da Covilhã, Serra da Estrela, relativamente perto da terra natal do realizador, Coimbra, no centro-norte de Portugal.
Luís Miguel Oliveira, in dossier promocional para Festival de Cannes 2003
quarta-feira, março 23, 2005
orgasmos fingidos
A curiosidade, e ainda bem, tem crescido ao longo dos tempos, no sentido de se decifrar este enigma. Porque é que as mulheres fingem os orgasmos? Porque têm de o fazer? Os homens já se habituaram a esta realidade, mas nunca se questionaram porque é que as mulheres o fazem. Felizmente, a nossa mentalidade tem crescido, tornando-se mais aberta a um tipo de questão tabu, como esta. Há tanta gente que não sabe o que é um orgasmo, ou se já sentiu algum. Como se manifesta. Como se faz. Como se aprende. Acredito, ainda, que nalgumas zonas do nosso país, e no seio de algumas camadas sociais não se sintam capazes a discutir e a querer saber do assunto. Em tempos que já lá vão, o prazer da mulher não era tema de conversa, quanto mais para se fazer no leito com o marido. Existia um único fim: o homem satisfazer-se.
Não querendo generalizar, a minha opinião, ainda, quanto a alguns homens de hoje é que ao tentarem minimizar o problema e para não se sentirem humilhados, fazem crer ao mundo que acreditam que as mulheres fingem, quando no fundo, eles próprios no acto sexual convencem-se a eles próprios e a elas que conseguem fazer vir qualquer mulher. De facto, supõem que têm esse poder e é suficiente para lhes dar prazer. Isso não basta. Ainda que o façam, a consumação ou o auge duma relação sexual, não se completa só por isso, quando ela ou ambos se vêm. Há questões mais importantes e determinantes para se atingir esse estádio: como a exploração da sensualidade, a exploração da voluptuosidade, a partilha do toque, do olhar, a ligação sensitiva que é tão importante e que não tem nada a ver com o orgasmo, pelo menos directamente. Onde é que está institucionalizado ou escrito que uma relação sexual deverá ter como desfecho o orgasmo? E até mesmo nesta matéria, torna-se difícil encontrar uma pessoa que nos complemente. Queremos sempre tudo.
Ou queremos cumplicidade ou compatibilidade à exploração do outro, com o outro.
Se não conseguimos essa envolvência queremos como prémio de consolação o orgasmo. Isso é válido, e acontece frequentemente. Tentamos filtrar e explorar o que o outro tem de bom ou de melhor. Nem sempre acontece. E é uma porra.
terça-feira, março 22, 2005
Quando....
O ar que respiro, este licor que bebo,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Álvaro de Campos
segunda-feira, março 21, 2005
Polivalência ou Versatilidade no Amor?
“De repente, num bar, numa festa, naquela praia, na fila do banco - não importa -, os olhos se encontram. Primeiro uma ansiedade, um calor no peito que logo se espalha em calafrios que procuramos disfarçar. Um leve suor nas mãos. No primeiro encontro, os lábios secam um pouco antes do primeiro beijo, ou não há sequer beijo, e as palavras tremem embaraçadas em pensamentos desordenados. Joelhos que, mal, sustentam o peso do corpo. Esquecemos o mundo lá fora em eternas horas de silenciosa saudade ao telefone, perfumadas com aquela inquietude própria dos amantes ... Desvarios comuns entre estranhos"
Percebamos um pouco este mecanismo. Ao sermos, inata e tendencialmente, polivalentes ou versáteis no serviço, aplicamos a mesma regra noutras áreas da nossa vida. Por outras palavras aprendemos a ser solícitos e zelosos na relação com os outros. Nas relações familiares, de amizade, de amor. Não será? Contudo, essa aplicabilidade no amor, revela-nos, quase sempre, subjectivas condicionantes, senão, importantes em detrimento à apreciação que fazemos dos outros. Como conhecer bem o outro e aplicar e bem essa polivalência que nos parece tão fácil e eficaz no serviço e que a utilizamos de uma forma despreocupada e livre. É o que somos e como funcionamos. No entanto, fora do contexto de trabalho é diferente, e tão mais difícil.
O exemplo acima descrito tem continuidade enquanto a paixão e a sedução perduram.
Logo, a polivalência no amor, é importante e quando a conseguimos manter, faz de nós vencedores e merecedores da nossa própria existência. E ao estimular o nosso saber, a noção que temos de nós próprios, torna-se mais nítida. A auto-consciência é essencial, e ao ser explícita aos outros, actua como uma identificação. A essa identificação está associada um cunho, que por vezes inflige nos outros, um esforço errado e em vão, ao tentar-se perceber o outro. A tarefa de desvendar esse cunho é sempre demorado e às vezes indecifrável. A polivalência neste caso, nem existe. O que quero dizer é cliché, mas é tão verdade: “Sejamos primeiro fiéis a nós próprios e depois aos outros. A confiança gera polivalência. E esta polivalência, de que falo, traz tantas conotações e sinónimos atrás. Não acham?
Polivalência é só para alguns - II (é fundamental)
Enfim, a capacidade de ser polivalente e de usar o tempo de maneira versátil passou a ser fundamental para quem não quer abandonar os seus sonhos. Como diz Leonardo Boff: "A utopia é o que impede o absurdo de tomar conta da história". Por isso, seja polivalente e concretize os seus sonhos!
Polivalência é só para alguns
Pois. A polivalência no serviço é, mesmo, só para alguns. E não é cliché. É a nossa realidade. Os prejudicados, nesta matéria, descobrem - e ficam-se por aí, claro - que a remuneração é sempre mais escassa para aquilo que fazem. É óbvio que há excepções. Otherwise, nunca existiria a regra. Dever-se-ia criar uma cláusula nos contratos de trabalho ou afins, prevendo-se algumas tarefas extras ou incomuns, para evitar que a polivalência só calhasse aos outros. Normalmente são sempre os mais desgraçados, os mais disponíveis, os mais interessados em que as coisas funcionem e nunca os que estão preocupados em fazer só o que lhes compete. O que é afinal um trabalhador produtivo? Será correcto dizer que é só aquele que cumpre o seu horário e as tarefas que lhe estão inerentes?
A competência é validada pelo cumprimento do horário? Ou a dedicação e a responsabilidade estão inversamente proporcionais às competências, banindo completamente a polivalência. Poder-se-á dizer que um trabalhador que está mais preocupado em agradar ao chefe – o comum lambe-botas – é aquele que se dedica exclusivamente a ser polivalente sem olhar a horas extraordinárias, mesmo não sendo pagas ou reconhecidas. Ou abnegamos tudo isto e pensamos que, a palavra polivalência deixa de ter a conotação importante e pesada por si mesma, e assume a verdadeira leitura e consideração que ela deve ter. É preciso que as coisas funcionem. Então metamos mãos à obra e ponto final. Especulações e mais especulações.
Numa perspectiva mais abrangente e minha, os colegas dever-se-iam apoiar mutuamente no sentido de fazer funcionar a instituição ou o gabinete numa óptica de equipa única, e nunca à espera que o chefe repare mais neste ou naquele, porque um é que fez e o outro está sentado a ver. A responsabilização reside na consciência de cada um.
terça-feira, março 15, 2005
FENG SHUI
"harmonic environment around us".
O Feng Shui é a antiga arte chinesa de criar ambientes harmoniosos. Originou-se há cerca de 5.000 anos, nas planícies agrícolas da China Antiga. Seu desenvolvimento vem sendo desde então, aumentado e evoluído, chegando aos dias de hoje, como uma disciplina capaz de nos oferecer um sistema completo, liga-nos intimamente à natureza e ao Cósmico. Seus diagnósticos e resoluções são capazes de resolver quase todos os problemas envolvendo uma casa e as pessoas que moram nela. São adaptados ao moderno estilo de vida, nos levando a entender e compreender uma sabedoria muito profunda que nos ensina a "viver em harmonia com a natureza". Em outras palavras, o Feng Shui é uma antiga arte chinesa que visa a harmonizar os ambientes em que as pessoas vivem e trabalham.
L'être humain fait corps avec l'Univers : c'est un microcosme au sein du Macrocosme.
L'Univers est en évolution permanente, et cette évolution se fait par cycles.
Suas teorias são baseadas no pensamento máximo chinês, o I Ching, juntamente com as leis do yin yang e cinco elementos - vitais em toda a cultura chinesa. Portanto, para se estudar mais profundamente o Feng Shui, deve-se ter em mente, que um estudo aprimorado e profundo dos 64 hexagramas do I Ching se faz necessário, e também as leis do yin yang, os opostos complementares, e os cinco elementos e seus relacionamentos. Toda esse estudo visa o entendimento do modo chinês de ver e entender o mundo e o universo, com seus relacionamentos e eternos ciclos de mudança. Lembre-se sempre: "Mudança é a Lei da Vida".
Devemos sempre ter em mente que o I Ching é um intermediário entre o nosso "EU" interior, o nosso inconsciente, nosso Mestre Interior e o ambiente; dessa forma, nós o utilizamos para obter as respostas que temos dentro de nós.
A energia Chi (também referida como Sopro Cósmico, ou a respiração do dragão). Não devemos confundir e dizer que a tradução para Chi é energia. Chi é muito mais que energia.
Em Feng Shui, existem dois tipos de Chi: o Sheng Chi (Chi benéfico), e o Sha Chi (Chi maléfico). Podemos relacionar todas as coisas como possuindo um Sheng Chi ou Sha Chi.
quarta-feira, março 09, 2005
Geni e o Zepelim
Chico Buarque, 1977-1978
Para a peça "Ópera do malandro"
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo "mudei de idéia"
"Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Essa noite me servir"
Essa dama era Geni
Mas não pode se Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela-e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos,
O bispo com olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
segunda-feira, março 07, 2005
Ela pula e acelera,
é a menina que galga e enlaça.
Inventa, contagia.
E põe-se a pintar rebelde qualquer pedra na areia
Com seus jeitos cabriolas,
Diz ao fascínio que desperte terno
Num dia de chuva, e chilreia ao riso
Como se, de um dia de festa se tratasse.
Sendo quão ventura.
Brinca, ri com tal frenesim
Que pede às crianças: “sejam crianças”!
Dia Internacional da Mulher - 8 de Março
Poemas para todas as mulheres
No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos reacendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!
Vinicius de Moraes
Mulher
Para quem tem paixão principalmente,
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que actua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."
Vinicius de Moraes
quinta-feira, março 03, 2005
sonhos e refúgios
Nada ter de tristeza nem saudades
Ser apenas Moraes sem ser Vinícius!
Ah, pudesse eu jamais, me levantando
Espiar a janela sem paisagem.
O céu sem tempo e o tempo sem memória!
Que hei de fazer de mim que sofro tudo
Anjo e demónio, angústias e alegrias
Que peco contra mim e contra Deus!
Às vezes me parece que me olhando
Ele dirá, do seu celeste abrigo:
Fui cruel por demais com esse menino..."
Vinicius de Moraes
Paixões (II)
Voltaire
Paixões (I)
Jean-Jacques Rousseau
quarta-feira, março 02, 2005
Paixões
Não é o que somos e o que fazemos mas o que podemos ser e fazer.
Antes disso, tenho-me a mim, tenho o que eu sou e o que eu posso ser. E, sem ajuda, eu amo. Tenho o amor em mim. Amo os animais, amo a minha terra, amo o mar, amo o alentejo, amo a minha avó. Assim como Narciso se ama a si mesmo. O Monstro pode amar a Bela. Pedro pôde amar Inês. Amor retribuído. Amor materno. Amor de um homem. Amor de uma mulher. Amor de um Deus. Amor-próprio. Amor sofrido. Amor secreto. Amor platónico. Amor. Amores.
O amor e a paixão estão-nos nas entranhas. Tal como o medo. O pânico comprime o estômago, assim como O amor esmaga o peito e estoira com a cabeça. Nas vísceras estão o bem e o mal e o amor em tudo crê e tudo aceita, o alvo e o sujo.
Somos empurrados pelo que rasga a pele e abana a alma. Qual coração e qual aura. Paixão é amor a ferver. E o que ferve tem de saltar. E quando saltamos e amamos, somos humanos.
Não é por se ser inteligente ou por se ter muitas coisas, ou por se ser independente ou por ser moderno que nos definimos.
A paixão e o amor são os portadores supremos e únicos do auto–conhecimento, que nesse ponto, até já esquecemos. “Ama e faz o que quiseres”, porque só aí podes mesmo fazer o que queres.
E conseguir fazer qualquer coisa de bom antes de morrer é a única razão que justifica isto ser um cliché - termos nascido.
TU
Que as dúvidas te sejam breves e a brisa te apure a visão... e então olha e vai até onde ninguém te conheça. Aí podes correr contra as palavras que te perseguem de cima...
Repara que a neblina por mais densa, nada é mais que o vapor que sai da chaminé do teu conhecimento, onde por fim acabas por regressar, quase sempre...
As ervas que pisas, são troncos outrora cortados p'los que te apupam e te negam o sorriso- vês como és superior? Vês como flutuas sobre os craneos daqueles que, cabisbaixos evitam o sol que encaras de frente?
Vai e enche o peito com o azul que te envolve e do qual fazes parte.
Vês como o teu sorriso brilha na penumbra mediocre dos inquéritos e dos referendos?
Vês como és verdade?
joining
Bloguemos, então!!!