terça-feira, março 29, 2005

Fugir para quê

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...«que país é este, que agarra as pessoas com tanta força ao mesmo tempo que lhes dá vontade de fugir?».
Pensando nesta frase, ocorre-me: como não ter vontade de fugir deste amontoado, desta panóplia de novidades que temos tido na politica, na economia, na crescente criminalidade, na vasta entrada e fácil de estrangeiros ao nosso país, na acessibilidade a drogas que os jovens têm cada vez mais, na miserabilidade de ordenados, na carestia de vida, de uma forma geral, na crescente diferença entre ricos e pobres, na ausência de chuva que tem levado os nossos agricultores à míngua e dos animais que, mais tarde ou mais cedo, acabam por morrer a fome e à sede. Enfim, um cenário não muito agradável. Neste cantinho da Europa, somos um dos povos europeus mais sacrificados.
Por outro lado, este país agarra-nos com força que, ao sermos latinos, criamos raízes, laços. E está-nos no sangue a emotividade, a afabilidade, a generosidade. Apelidam-nos de hospitaleiros, de quentes. A questão do patriotismo, também é uma razão forte. Lembrem-se do Euro 2004. Só é pena, sentirmos e manifestarmo-nos quando surgem eventos deste tipo. Mas penso que será um motivo forte para explicar o que nos prende a este magnifico país. Além disso, temos um clima, que não é dos piores. É óbvio que nem toda a gente pensa assim. Nem é que conheça muito do mundo, mas já viajei para alguns paises da Europa e gosto muito de Portugal. Acho que o devíamos preservar e cuidar mais do que é nosso.

Quaresma

Época de provações, de penitência, de jejum, de contenções, de todo o tipo de abstinência, de não se poder comer isto e aqueloutro, mas também de meditação. Período em que a Igreja Católica relembra os 40 dias de Jesus Cristo no deserto. Se bem, que na cultura ocidental tem sido mais abrandada esta tradição. Há muita gente que, ainda hoje, não come carne na santa sexta-feira.
Nem a propósito, no meu último post, nem era próprio, nesta época, fingir-se os orgasmos. Impõe-se, - passe-se a expressão - deixar de fazer algo que se considerasse prazeroso.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quaresma

Ao fazer uma busca pela palavra Quaresma tropecei num link sobre um filme de José Álvaro Morais.

«(...) É ainda à volta da grande burguesia rural portuguesa (ou melhor, dos restos dela, ou seja, do estatuto, que sobretudo a enclausura) que o filme passa-se - na zona da Covilhã, Serra da Estrela, relativamente perto da terra natal do realizador, Coimbra, no centro-norte de Portugal.
Em "Quaresma" há menos sol, há mais gravidade, a "terra" faz-se sentir de outra maneira mais pesada, o próprio ar e o próprio céu parecem desaparecer numa mescla de tons cinzentos. Mantém-se o desejo de fuga, mas agora parece que a fuga (real ou ilusória, conseguida ou falhada) só se pode fazer continuando para norte - para a Dinamarca e para as praias austeras do mar do Norte. Não será forçar muito a nota dizer que "Quaresma" é como um "road movie" em circuito fechado, ou um "road movie" que anseia pela estrada que o confirme.
Todas as personagens que o filme segue - que são as personagens que ainda guardam um desejo de movimento - seguem as vias das suas fugas (im)possíveis e imaginadas.
Aí surge, em especial, a personagem de Beatriz Batarda, cuja semi-loucura atesta ao mesmo tempo uma hipótese de fuga e a sua impossibilidade: como uma "enfant sauvage", o seu desejo de liberdade esbarra nas fronteiras do seu espírito (e de resto, não estamos seguros de que a sua perturbação não tenha raiz, justamente, na sua clausura). É que as estradas de "Quaresma" têm todas um fim: ou acabam no alto da Serra da Estrela ou nas margens do mar do Norte.
A grande pergunta de todos os filmes de José Álvaro de Morais, mantém-se: que país é este, que agarra as pessoas com tanta força ao mesmo tempo que lhes dá vontade de fugir?»

Luís Miguel Oliveira, in dossier promocional para Festival de Cannes 2003

quarta-feira, março 23, 2005

orgasmos fingidos

O tema, orgasmos fingidos, tem barbas, mas só para alguns. Não nos podemos esquecer que até há bem pouco tempo, era pecado, sequer, falar nisso. Faz parte da nossa tradição, é uma questão cultural.

A curiosidade, e ainda bem, tem crescido ao longo dos tempos, no sentido de se decifrar este enigma. Porque é que as mulheres fingem os orgasmos? Porque têm de o fazer? Os homens já se habituaram a esta realidade, mas nunca se questionaram porque é que as mulheres o fazem. Felizmente, a nossa mentalidade tem crescido, tornando-se mais aberta a um tipo de questão tabu, como esta. Há tanta gente que não sabe o que é um orgasmo, ou se já sentiu algum. Como se manifesta. Como se faz. Como se aprende. Acredito, ainda, que nalgumas zonas do nosso país, e no seio de algumas camadas sociais não se sintam capazes a discutir e a querer saber do assunto. Em tempos que já lá vão, o prazer da mulher não era tema de conversa, quanto mais para se fazer no leito com o marido. Existia um único fim: o homem satisfazer-se.

Não querendo generalizar, a minha opinião, ainda, quanto a alguns homens de hoje é que ao tentarem minimizar o problema e para não se sentirem humilhados, fazem crer ao mundo que acreditam que as mulheres fingem, quando no fundo, eles próprios no acto sexual convencem-se a eles próprios e a elas que conseguem fazer vir qualquer mulher. De facto, supõem que têm esse poder e é suficiente para lhes dar prazer. Isso não basta. Ainda que o façam, a consumação ou o auge duma relação sexual, não se completa só por isso, quando ela ou ambos se vêm. Há questões mais importantes e determinantes para se atingir esse estádio: como a exploração da sensualidade, a exploração da voluptuosidade, a partilha do toque, do olhar, a ligação sensitiva que é tão importante e que não tem nada a ver com o orgasmo, pelo menos directamente. Onde é que está institucionalizado ou escrito que uma relação sexual deverá ter como desfecho o orgasmo? E até mesmo nesta matéria, torna-se difícil encontrar uma pessoa que nos complemente. Queremos sempre tudo.

Ou queremos cumplicidade ou compatibilidade à exploração do outro, com o outro.
Se não conseguimos essa envolvência queremos como prémio de consolação o orgasmo. Isso é válido, e acontece frequentemente. Tentamos filtrar e explorar o que o outro tem de bom ou de melhor. Nem sempre acontece. E é uma porra.

terça-feira, março 22, 2005

Quando....

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Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


Álvaro de Campos

segunda-feira, março 21, 2005

Polivalência ou Versatilidade no Amor?


“De repente, num bar, numa festa, naquela praia, na fila do banco - não importa -, os olhos se encontram. Primeiro uma ansiedade, um calor no peito que logo se espalha em calafrios que procuramos disfarçar. Um leve suor nas mãos. No primeiro encontro, os lábios secam um pouco antes do primeiro beijo, ou não há sequer beijo, e as palavras tremem embaraçadas em pensamentos desordenados. Joelhos que, mal, sustentam o peso do corpo. Esquecemos o mundo lá fora em eternas horas de silenciosa saudade ao telefone, perfumadas com aquela inquietude própria dos amantes ... Desvarios comuns entre estranhos"

Percebamos um pouco este mecanismo. Ao sermos, inata e tendencialmente, polivalentes ou versáteis no serviço, aplicamos a mesma regra noutras áreas da nossa vida. Por outras palavras aprendemos a ser solícitos e zelosos na relação com os outros. Nas relações familiares, de amizade, de amor. Não será? Contudo, essa aplicabilidade no amor, revela-nos, quase sempre, subjectivas condicionantes, senão, importantes em detrimento à apreciação que fazemos dos outros. Como conhecer bem o outro e aplicar e bem essa polivalência que nos parece tão fácil e eficaz no serviço e que a utilizamos de uma forma despreocupada e livre. É o que somos e como funcionamos. No entanto, fora do contexto de trabalho é diferente, e tão mais difícil.

O exemplo acima descrito tem continuidade enquanto a paixão e a sedução perduram.

Logo, a polivalência no amor, é importante e quando a conseguimos manter, faz de nós vencedores e merecedores da nossa própria existência. E ao estimular o nosso saber, a noção que temos de nós próprios, torna-se mais nítida. A auto-consciência é essencial, e ao ser explícita aos outros, actua como uma identificação. A essa identificação está associada um cunho, que por vezes inflige nos outros, um esforço errado e em vão, ao tentar-se perceber o outro. A tarefa de desvendar esse cunho é sempre demorado e às vezes indecifrável. A polivalência neste caso, nem existe. O que quero dizer é cliché, mas é tão verdade: “Sejamos primeiro fiéis a nós próprios e depois aos outros. A confiança gera polivalência. E esta polivalência, de que falo, traz tantas conotações e sinónimos atrás. Não acham?

Polivalência é só para alguns - II (é fundamental)

O campeão, hoje, tem que ser polivalente. O conceito moderno de administração inclui a polivalência entre os requisitos básicos de um profissional bem-sucedido. Se quiser vencer, o profissional deve agregar valores e desenvolver o maior número possível de habilidades.
Ter a capacidade de acumular recursos e funções que o tornem apto a desenvolver uma série de actividades, em curto espaço de tempo e com os melhores resultados possíveis, não é para todos.
O perdedor, ao contrário, sempre reclama que estão lhe cobrando muitas tarefas.
Ter uma boa visão do seu presente, da sua realidade actual, daquilo que você já sabe fazer bem e daquilo de que precisa aprender. Estes são os primeiros passos para ganhar consistência, eficiência, velocidade e assertividade nos seus actos. Depois, é empenhar-se em somar aos seus conhecimentos aqueles que vê serem necessários para manter-se satisfeito com seu próprio desempenho, e continuar em sintonia com a velocidade exigida de um campeão. E cuidado para não confundir velocidade com corre-corre, que são sintomas opostos. O corre-corre reflecte apenas falta de planeamento, e muitas vezes não permite que a pessoa saboreie as pequenas vitórias quotidianas, que alimentam o sonho das grandes vitórias.

Enfim, a capacidade de ser polivalente e de usar o tempo de maneira versátil passou a ser fundamental para quem não quer abandonar os seus sonhos. Como diz Leonardo Boff: "A utopia é o que impede o absurdo de tomar conta da história". Por isso, seja polivalente e concretize os seus sonhos!

Polivalência é só para alguns


Pois. A polivalência no serviço é, mesmo, só para alguns. E não é cliché. É a nossa realidade. Os prejudicados, nesta matéria, descobrem - e ficam-se por aí, claro - que a remuneração é sempre mais escassa para aquilo que fazem. É óbvio que há excepções. Otherwise, nunca existiria a regra. Dever-se-ia criar uma cláusula nos contratos de trabalho ou afins, prevendo-se algumas tarefas extras ou incomuns, para evitar que a polivalência só calhasse aos outros. Normalmente são sempre os mais desgraçados, os mais disponíveis, os mais interessados em que as coisas funcionem e nunca os que estão preocupados em fazer só o que lhes compete. O que é afinal um trabalhador produtivo? Será correcto dizer que é só aquele que cumpre o seu horário e as tarefas que lhe estão inerentes?

A competência é validada pelo cumprimento do horário? Ou a dedicação e a responsabilidade estão inversamente proporcionais às competências, banindo completamente a polivalência. Poder-se-á dizer que um trabalhador que está mais preocupado em agradar ao chefe – o comum lambe-botas – é aquele que se dedica exclusivamente a ser polivalente sem olhar a horas extraordinárias, mesmo não sendo pagas ou reconhecidas. Ou abnegamos tudo isto e pensamos que, a palavra polivalência deixa de ter a conotação importante e pesada por si mesma, e assume a verdadeira leitura e consideração que ela deve ter. É preciso que as coisas funcionem. Então metamos mãos à obra e ponto final. Especulações e mais especulações.

Numa perspectiva mais abrangente e minha, os colegas dever-se-iam apoiar mutuamente no sentido de fazer funcionar a instituição ou o gabinete numa óptica de equipa única, e nunca à espera que o chefe repare mais neste ou naquele, porque um é que fez e o outro está sentado a ver. A responsabilização reside na consciência de cada um.

terça-feira, março 15, 2005

FENG SHUI

A propósito de técnicas para melhorar o nosso bem-estar geral. Tantas mais, há. Lembro o yoga, ou de algumas técnicas budistas, ou se, com alguma leitura sobre estas matérias, conseguiremos atingir alguma concentração e harmonia: vermo-nos por dentro e adquirirmos capacidade e criatividade para viajar à descoberta fantástica do nosso eu. O feng shui, é outra, tem uma vertente cósmica.
"harmonic environment around us".

O Feng Shui é a antiga arte chinesa de criar ambientes harmoniosos. Originou-se há cerca de 5.000 anos, nas planícies agrícolas da China Antiga. Seu desenvolvimento vem sendo desde então, aumentado e evoluído, chegando aos dias de hoje, como uma disciplina capaz de nos oferecer um sistema completo, liga-nos intimamente à natureza e ao Cósmico. Seus diagnósticos e resoluções são capazes de resolver quase todos os problemas envolvendo uma casa e as pessoas que moram nela. São adaptados ao moderno estilo de vida, nos levando a entender e compreender uma sabedoria muito profunda que nos ensina a "viver em harmonia com a natureza". Em outras palavras, o Feng Shui é uma antiga arte chinesa que visa a harmonizar os ambientes em que as pessoas vivem e trabalham.

Les principes fondamentaux

Par NGUYEN Ngoc-Rao

L'Univers, c'est l'oscillation des deux forces Yang et Yin, et leurs vicissitudes.
L'être humain fait corps avec l'Univers : c'est un microcosme au sein du Macrocosme.
L'Univers est en évolution permanente, et cette évolution se fait par cycles.

A tradução literal do termo Feng Shui é Vento-Água. Mas significa muito mais que isso. Os chineses dizem que essa arte é como o vento que não se pode entender, e como a água, que não se pode agarrar. E também é o vento que traz a água das chuvas para nutrir tudo o que está em baixo.

Suas teorias são baseadas no pensamento máximo chinês, o I Ching, juntamente com as leis do yin yang e cinco elementos - vitais em toda a cultura chinesa. Portanto, para se estudar mais profundamente o Feng Shui, deve-se ter em mente, que um estudo aprimorado e profundo dos 64 hexagramas do I Ching se faz necessário, e também as leis do yin yang, os opostos complementares, e os cinco elementos e seus relacionamentos. Toda esse estudo visa o entendimento do modo chinês de ver e entender o mundo e o universo, com seus relacionamentos e eternos ciclos de mudança. Lembre-se sempre: "Mudança é a Lei da Vida".

Devemos sempre ter em mente que o I Ching é um intermediário entre o nosso "EU" interior, o nosso inconsciente, nosso Mestre Interior e o ambiente; dessa forma, nós o utilizamos para obter as respostas que temos dentro de nós.

A energia Chi (também referida como Sopro Cósmico, ou a respiração do dragão). Não devemos confundir e dizer que a tradução para Chi é energia. Chi é muito mais que energia.

Em Feng Shui, existem dois tipos de Chi: o Sheng Chi (Chi benéfico), e o Sha Chi (Chi maléfico). Podemos relacionar todas as coisas como possuindo um Sheng Chi ou Sha Chi. A frase "sem Chi, sem vida" é essencial no entendimento das forças dinâmicas do vento e da água.

quarta-feira, março 09, 2005


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Geni e o Zepelim
Chico Buarque, 1977-1978
Para a peça "Ópera do malandro"

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo "mudei de idéia"
"Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Essa noite me servir"
Essa dama era Geni
Mas não pode se Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela-e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos,
O bispo com olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

segunda-feira, março 07, 2005

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Ela pula e acelera,
é a menina que galga e enlaça.
Inventa, contagia.
E põe-se a pintar rebelde qualquer pedra na areia
Com seus jeitos cabriolas,
Diz ao fascínio que desperte terno
Num dia de chuva, e chilreia ao riso
Como se, de um dia de festa se tratasse.
Sendo quão ventura.
Brinca, ri com tal frenesim
Que pede às crianças: “sejam crianças”!

Dia Internacional da Mulher - 8 de Março

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Poemas para todas as mulheres

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos reacendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

Vinicius de Moraes

Mulher

"São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão principalmente,
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que actua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."

Vinicius de Moraes

quinta-feira, março 03, 2005

sonhos e refúgios

"Oh, quem me dera não sonhar mais nunca.
Nada ter de tristeza nem saudades
Ser apenas Moraes sem ser Vinícius!
Ah, pudesse eu jamais, me levantando
Espiar a janela sem paisagem.
O céu sem tempo e o tempo sem memória!
Que hei de fazer de mim que sofro tudo
Anjo e demónio, angústias e alegrias
Que peco contra mim e contra Deus!
Às vezes me parece que me olhando
Ele dirá, do seu celeste abrigo:
Fui cruel por demais com esse menino..."

Vinicius de Moraes

Paixões (II)

Quem pretende destruir as paixões, em vez de as regular, quer fingir-se inocente.

Voltaire

Paixões (I)

Mau grado o que dizem os moralistas, o entendimento humano deve muito às paixões, que, de comum acordo, também lhe devem muito: é pela sua actividade que a nossa razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer porque desejamos gozar; e não é possível conceber porque aquele que não tivesse desejos nem temores se desse ao trabalho de raciocinar. As paixões, por sua vez, originam-se a partir das nossas necessidades, e o seu progresso dos nossos conhecimentos; porque só podemos desejar ou temer coisas segundo as ideias que temos delas, ou pelo simples impulso da natureza; e o homem selvagem, privado de toda a sorte de luzes, só experimenta as paixões dessa última espécie; os únicos bens que conhece no universo são a sua nutrição, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a fome. Digo a dor, e não a morte; porque jamais o animal saberá o que é morrer; e o conhecimento da morte e dos seus terrores foi uma das primeiras aquisições que o homem fez afastando-se da condição animal.

Jean-Jacques Rousseau

quarta-feira, março 02, 2005

Paixões



O que é que nos define? São as nossas paixões. O problema é que não queremos definir nada e somos todos tão diferentes, que definir, e dar um fim, não faz sentido.
Não é o que somos e o que fazemos mas o que podemos ser e fazer.

Antes disso, tenho-me a mim, tenho o que eu sou e o que eu posso ser. E, sem ajuda, eu amo. Tenho o amor em mim. Amo os animais, amo a minha terra, amo o mar, amo o alentejo, amo a minha avó. Assim como Narciso se ama a si mesmo. O Monstro pode amar a Bela. Pedro pôde amar Inês. Amor retribuído. Amor materno. Amor de um homem. Amor de uma mulher. Amor de um Deus. Amor-próprio. Amor sofrido. Amor secreto. Amor platónico. Amor. Amores.

O amor e a paixão estão-nos nas entranhas. Tal como o medo. O pânico comprime o estômago, assim como O amor esmaga o peito e estoira com a cabeça. Nas vísceras estão o bem e o mal e o amor em tudo crê e tudo aceita, o alvo e o sujo.

Somos empurrados pelo que rasga a pele e abana a alma. Qual coração e qual aura. Paixão é amor a ferver. E o que ferve tem de saltar. E quando saltamos e amamos, somos humanos.
Não é por se ser inteligente ou por se ter muitas coisas, ou por se ser independente ou por ser moderno que nos definimos.
Sou livre para saltar, abandonar tudo, abandonar o eu construído e regressar ao eu ciente.
A paixão e o amor são os portadores supremos e únicos do auto–conhecimento, que nesse ponto, até já esquecemos. “Ama e faz o que quiseres”, porque só aí podes mesmo fazer o que queres.

E conseguir fazer qualquer coisa de bom antes de morrer é a única razão que justifica isto ser um cliché - termos nascido.

TU

Vai e esquece-te... vês aquele caminho ali adiante? Vai por lá e molha os pés no orvalho.
Que as dúvidas te sejam breves e a brisa te apure a visão... e então olha e vai até onde ninguém te conheça. Aí podes correr contra as palavras que te perseguem de cima...
Repara que a neblina por mais densa, nada é mais que o vapor que sai da chaminé do teu conhecimento, onde por fim acabas por regressar, quase sempre...
As ervas que pisas, são troncos outrora cortados p'los que te apupam e te negam o sorriso- vês como és superior? Vês como flutuas sobre os craneos daqueles que, cabisbaixos evitam o sol que encaras de frente?

Vai e enche o peito com o azul que te envolve e do qual fazes parte.
Vês como o teu sorriso brilha na penumbra mediocre dos inquéritos e dos referendos?
Vês como és verdade?

joining

è com enorme gosto que passo a fazer parte do teu blog... obrigado p'lo convite!!

Bloguemos, então!!!