quarta-feira, dezembro 28, 2005

a impetuosidade do Natal

Pensando nas mensagens de Natal largadas pelos blogs, em celebração à quadra. Achei melhor não repetir.
Naquelas mensagens foleiras que se trocam pelos telemóveis sem conta. Isso fiz. Acabo por ser uma telemóvel-dependente. E no dinheirão que flui sem parar, pelos vistos também aderi.
Contudo, já pensaram que, sem nos darmos conta, contribuimos para a institucionalização desta comercialização. Não concordam?
Ontem, ouvia na rádio a exorbitância de numerário que se levantou nos multibancos só no fim de semana passado. Mais de 120 mil euros. E isto, só nos multibancos. Imagino nas lojas e afins. Mais outro tanto, ou ainda mais.
Desde o tempo dos reis Magos que isto acontece. Já que foram eles os causadores destas oferendas.
Portanto, além da impetuosidade deste espirito, gasta-se desmesuradamente e por obrigação. Oferece-se qq coisa a toda a gente. Antigamente, oferecia-se só aos mais próximos. A minha avó conta-se isso muitas vezes.
Deixo aqui a minha mensagem de Natal. Sejam felizes ainda que não seja Natal. E não é necessário oferecer-se sempre qq coisa p nos sentirmos natalicios. Um bom dia ou um olá contribui sempre para a felicidade do próximo.

terça-feira, dezembro 13, 2005

De Eça tudo se disse



1845 - 1900



http://www.imultimedia.pt/museuvirtpress/ecaqueiroz/

http://www.feq.pt/

http://purl.pt/93/1/

Uma campanha alegre

Sou sincera, leio pouco. Deveria ler muito mais.
A informação é tudo e é importante. Devo confessar que me seria muito mais fácil conhecer e lidar com outro tipo de pessoas. Aprofundar os meus conhecimentos e atingir outros e diferentes horizontes. A capacidade e o potencial está em nós, sempre. O mais dificil é exercitar e preparar o "campo" para podermos avançar e progredir.
Pouco tem a ver com o que vou comentar, mas há coisas curiosas. Nem a propósito, ontem li um texto que não conhecia do Eça de Queirós. A campanha alegre. Geração de 1870. Despertou-me a atenção. Li e acho que tem um pouco a ver com a campanha adaptada aos nossos tempos. Senão pensem em Manuel alegre. Não se queria candidatar e acabou por fazê-lo. Talvez por força maior, por amor à camisola, por uma causa... sei lá.
Queria marcar a sua posição. Acabou por ter de ser candidato, pela exigência de grande parte da população socialista ou afecta.
O texto do Eça "Uma campanha alegre" só vem revelar a peixeirada que se adapta e coaduna aos nossos tempos. Tenho pena de não ter encontrado esse texto nalgum site. Deixa-lo-ia para relerem ou para quem não conhece. Mas não encontrei.

http://www.releituras.com/equeiroz_menu.asp

segunda-feira, dezembro 12, 2005


Nunca se fala das mãos.
Elas dizem tanto e tão pouco.
Elas, falam de nós.
Elas também, fazem por nós.
Elas traçam percursos que só, aos entendidos, deixam ler.

Revestidas por pele, nervos e veias elas exprimem a nossa personalidade.
confere-lhes o poder delicado de tocar, cheirar, sentir e beber.
São felizes, não sentem culpa.
Falam, simplesmente pelo toque.
descobrem, pelo cheiro.
Abrem portas definhadas de vidas sofridas, calejadas pelo tempo.
escritas amargas de dores inesqueciveis. Algumas irreveláveis.

Outras sabem esquartejar, matar e banir.
nunca aprenderam a pintar e a esculpir.
Mas elas falam de nós.

sem nexo


quase sempre o que se diz, não tem nexo.
quase sempre o que se sente, não tem fala.

terça-feira, dezembro 06, 2005


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá a falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".
ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."


Fernando Pessoa

segunda-feira, novembro 28, 2005

Um domingo qualquer,

uma exposição agradavel.

http://www.gulbenkian.pt/v1/home.asp
Vento discorde, circundante,
Traz, de novo, contigo o poder de uma doce metamorfose
Entre pétalas e ramagens,
anuncias rendez-vous esbatido em cores e cheiros.
Assemelhas-te a, ósculos que ao de leve tocam e marcam.

Em tempos, jorravas brisa constrangida, numa jocosidade impetuosa,
Recordo um rio a fluir, maresia, o mar profundo …
torrentes espalhadas figurantes, entrelaçavam-se em vagas
dilaceradas por qualquer embarcação.
No entanto, mimavas a imensidão pura e selvática,
Sabia o que fazer... descaradamente me alumiavas.

Continuas a ser aquele beijo que nunca mais vi,
Para mim eras mar e vento,
Eras a natureza em bruto,
A nostalgia lembra-te belo e ténue
Época houve, em que me perdia em ti,
Uniam-se à minha chegada e,
Eras uma doçura, quase incompreensível ao sabor.

Gosto, toque, doce ainda te tenho na boca.
Hoje belicosamente só me sabes a sal,
tormentas interiores abandonadas em saliva,
sobrevivem às reminiscências …
Desejo. Visualizo-te. Ao longe. És degrau superior.
Porque me enjeitas.
Longos foram os dias q te bradei, sem resposta
Desafiavas-me, não te reconheço
Pouco te estimei e, foste desenvolvendo espaço vazio.

Vazio, Vão. Oco. Lembranças incompletas,
Palavras rasuradas, inconsequentes
Ofensas destronadas, gestos arrojados.
Só te recordo em bruto.
Ainda eras um molde por descortinar que,
Converti num todo, e basilar, vivias.

Reagias ao olhar, ao toque, ao coração,
E ao teu perfume, criámos a melodia certa
Meiguices dançantes, beijos memoráveis
Na tua música engrandeci.
Recordo-te (em) bruto.
És beijo que não esqueci.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Respiro o teu corpo


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade

"Não passes o tempo com alguém não esteja disposto a passá-lo contigo."

(Gabriel García Marquez)

terça-feira, outubro 25, 2005

África (doce viciante)

África

Sonhei um dia
Com as tuas cores
Com o teu perfume
Com o teu sabor,
Provei-te e acaricio-te
Quero sempre mais e
devagar uso o teu gosto.
Sinto a tua falta mas,
se um dia me atrever
cedo à sedução
Que estremecia
naquele horizonte sem fim.
Era Agosto e estava quente
ardia de contentamento.
E o meu corpo viciou-se em ti.
Ainda sonho.
"De amor nunca se fala o suficiente".


Ingmar Bergman, cineasta sueco.

o tempo do Rossio

Já não se passa pelo Rossio.
pecúlio ilustre de existências calejadas,
paredes frias entranhadas de estorias dificeis,
e azedumes de uma ou outra mulher,

escada rolante ou tapete que, corpos infindáveis carregava,
resistentes ou calosos, anafados ou escanzelados,
para cima e para baixo, eram as regras de outrora,
foram do seu tempo, tempo azedo.

por onde se passava,
o relógio lá falava e foi-se gastando o tempo.
O moço, cauteleiro ou jornaleiro
já não tem onde vender.

E os habitués, onde correr.

Aglomerações se viam, sem conta
ancoradouro étnico, cenários mistos
peles combinadas, cabelos multicores,
já não têm porque dançar.

A trote se pavoneavam pelas redondezas,
culturais ou coloridas, de cinzento, ou de preto
e as bilheteiras imponentes, lá cuspiam
os seus bilhetes.

E a azáfama, descontinuada.
Media o tempo do Rossio.

Estação. Rossio. Relógio. Bilheteira.
Escadas. Rolantes. Gentes.
O dia, ainda mal dormia.

Nunca me esqueci de ti

Nunca me esqueci de ti

Bato a porta devagar,
Olho só mais uma vez
Como é tão bonita esta avenida...
É o cais. Flor do cais:
Águas mansas e a nudez
Frágil como as asas de uma vida

É o riso, é a lágrima
A expressão incontrolada
Não podia ser de outra maneira
É a sorte, é a sina
Uma mão cheia de nada
E o mundo à cabeceira

Mas nunca
Me esqueci de ti

Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão

Mas nunca
Me esqueci de ti


João Monge / Rui Veloso

Saiu para a rua

Saiu decidida para a rua
Com a carteira castanha
E o saia-casaco escuro
Tantos anos tantas noites
Sem sequer uma loucura

Ele saiu sem dizer nada
Talvez fosse ao teatro chino
Vai regressar de madrugada
E acordá-la cheio de vinho

Tantos anos tantas noites
Sem nunca sentir a paixão
Foram já as bodas de prata
Comemoradas em solidão

Pôs um pouco de baton
E um leve toque de pintura
Tirou do cabelo o travessão
E devolveu ao rosto a candura

Saiu para a rua insegura
Vageou sem direcção
Sorriu a um homem com tremura
E sentiu escorrer do coração
A humidade quente da loucura

Letra de Rui Veloso

segunda-feira, outubro 24, 2005

Almost granted

Nem sequer palavras azedas, ele proferiu, naquele dia. Já não a via há mais de um mês.
E no entanto, já muito pouco havia a dizer, quando estavam juntos.
As suas vidas trilhavam percursos diferentes.
A ambição e o poder ocupava a simplicidade que lhe fora inata. Ela não se importava com isso, desde que ele lhe desse atenção. Também a sua vida iniciava um ciclo diferente do dela. Ele insistia que tinha saudades. Mas quando estava por perto era como se não a visse. Era como se ela tivesse de fazer parte daquele convívio. Para não ferir susceptibilidades. Porque a conhecia há muito tempo. E porque passaram por tanta coisa, juntos. Como tudo mudou. Somente isso. E se ela precisava de companhia, essa companhia era muda. Os valores mudaram. As ausências permanecem. As conversas são diferentes, e no entanto, tão iguais. Os desfechos previsiveis. Os julgamentos e as rotinas não se alteram. As compatibilidades afastam-se cada vez mais. E surge um eco oco em redor, como se por pena, ela assistisse ao desempenho e desenvolvimento do que se passou durante estes anos. Ela mantem-se inerte, à procura de uma luz que a faça despertar, para agarrar o que perdeu.
Um gesto, um aceno. Uma conversa, ou uma troca de vivências. Qualquer acaso que a sustente. Recuperar a cumplicidade que os unia. O saudosismo de uma noite. O alvorecer da gargalhada. E se ele gostava. Alvoraçados se perdiam um no outro.
Elogios desprendidos, se tornaram.
E no entanto, eu estou aqui. E tu para onde te foste?

quinta-feira, outubro 20, 2005

Palavras de Outono

Pela manhã, as palavras acizentam-se;

As faces perdem brilho. O Verão já lá vai.
Os dias são baços e pequenos, de uma insignificante palidez.
O olhar, as falas, há indefinições no caminhar.
O cinza chuvoso empalidece o ruído da avenida
traçando calor sem cor.

As manhãs de outono fogem à definição,
misturam-se em nuvens pesadas nalguns raios de sol
e o amarelo enfraquecido alimenta algumas árvores
(estranhas).

O anoitecer perde-se;
o cinza assume — como o chumbo, escuro.
O céu torna-se mais baixo — pode-se tocá-lo
Arranco um pedaço,
húmido, frio como o cansaço, e o asfalto é sujo
e tinge-me as mãos.

Insisto em pincelar de vermelho, em tons de azul
e aquele amarelo girassol hiato no passado.
As pinceladas tornam-se pesadas.
como os prédios cinza, (enormes prédios cinza)
tão pesados como os vagões cinza, lotados de pessoas
sombrias e, escravas das suas horas cinzas..

Sento-me diante da janela suja:
à espera do sol, à espera do próximo Verão.

A vida se esvai em sons vagos por repressões, ambições vulgares e estúpidas,
são gestos inconscientes em esboços constantes no lençol frio.

o olhar de silêncio é inerte,
divaga o sorriso lento e meus pés ficam cansados
e os sons das minhas mãos beijam terra e pó
em pequenas taças de vinho e sal.

Ecos de uma linha tênue
fragmentos de saudades,
emoções dispersas e soltas
nalgum asfalto cinzento desconsolado.

Lembro-me vagamente destes resquícios,
sensações prazerosas, só já são
apenas traços que a chuva, tenazmente, inunda.

SInce September

Desde Setembro que não vinha aqui. Não tem sido fácil. Nestas semanas após as míseras férias que tive, o tempo de lazer tem sido muito pouco. O trabalho tem sido imenso. O descanso e pequenos intervalos neste espaço não têm, sequer, sido. E a verdade é que a falta de computador em casa tem permitido esta ausência mais acérrima ao blog. Ms as coisas compôr-se-ão e terei um ordinateur chez moi, as soon as possible. Poderei, assim, todos os dias marcar presença neste diário.
Voltará a minha inspiração, Deus queira. Pois desde 2001/2002 que ela não me dá noticias.
O estimulo, a motivação têm andado de mãos dadas por outras terras e gentes.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Rentrée

Regressei de férias. Sinto-me descansada. Apanhei sol e praia. Foi óptimo. Estive com amigos. Ainda consegui sair de Lisboa, por uns dias. É sempre agradavel fugir da poluição e respirar um pouco de ar menos poluído. Agora, o mais dificil é habituar-me à monotonia do serviço, entrar no ram-ram do dia a dia de mais um ano de trabalho.
Ontem, lembrei-me de falar dos meus amigos, no meu blog. São poucos é certo. Mas acho que preciso de falar sobre, dando-lhes um pseudónimo. Por ora, não precisam de saber quem são.
Além de que, podem e devem ser motivo de engrandecimento ou de empobrecimento para o blog. E mais. Poderão fazer parte de uma pequena estória que eu e mais duas amigas nos lembrámos de fazer. Cada uma falar sobre as suas experiências amorosas que tivemos até hoje. Compilamos o trabalho, claro, ter-se-ia que, primeiro que tudo, fazer um projecto e no final uns ajustes para que pudéssemos encaixar os textos, só, numa estória. Interessante, não acham?
O livro poder-se-ia chamar. Na vida de três mulheres. Pela vida de três amigas. Sei lá. Ainda está em embrião.
Aceito sugestões.

sexta-feira, agosto 12, 2005

A vida é bela

A vida é bela. A vida é única. E é compensadora. Nunca lhe damos a importância que ela merece. Da forma como a desperdiçamos. Por vezes, duma forma ignorante ou tacanha.

Complicamos as coisas simples, guerreamos por insignificâncias, vemos o mal onde ele nao existe, destruimos a nossa paz que nasce intacta e ao invés de a alimentarmos só a vergamos à nossa imagem, à nossa maneira. E temos, ainda, de conviver com tanta coisa que odiamos: guerra, poluição, miséria, fome, falta de amor, ganância, poder e, como se não bastasse temos de lidar com a doença, com a morte. É terrivel.

Lembro-me de uma amiga me dizer, em tempos, que ficava feliz e infeliz com o nascimento de uma criança. Percebi quando ela me explicou o porquê dessa infelicidade. O facto de vir mais uma criança a este mundo com tanta coisa que ela tem de assistir, de ver, de sentir na pele como todos nós, coisas que nos desagradam. Se pensarmos que este mundo está cada vez pior e se agrava com o passar dos anos, então que futuro risonho e saudável se pode dar a uma criança. Todo um processo de dor e sofrimento. É óbvio que as coisas boas como a alegria, o amor, a bondade, a solidariedade, também fazem parte. Mas há crianças que, infelizmente, nunca conhecem esse mundo, convivem toda a vida com o lado mau. É justo? Não sei bem. Acho que, por vezes, não sabemos o que fazer com a vida. À nossa disposição, ela passa por nós e nem nos apercebemos que envelhecemos. Com o bom e com o mau, ou o menos bom.

Mas é tão belo estar vivo.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Desajuste

Quem quer produzir neste país, sente-se sempre desajustado.

Naquelas ocasiões especiais, como férias, ou licenças de maternidade ou paternidade, ou saídas repentinas sem motivo aparente ... os serviços ficam sempre por metade e é quando é. Mas há que dar feed back aos que ficam por lá, os que trabalham e mantem o funcionamento, enquanto a outra metade está de férias. Mas não se entende. Os serviços, nessas alturas, deveriam ser assegurados, mas não é o que acontece. Muitas das vezes, não desenvolvem, nem fazem por cumprir o que lhes é destinado. Acha-se que por estar pouca gente no serviço não vai haver problemas. - Errado, é precisamente o contrário - O que vem no contrato deve ser cumprido; tarefas, funções, cumprimentos são talhados inicialmente, assim como, deverão ser mantidos até vencer o prazo do contrato. É para isso que são pagos. Pelos serviços prestados à empresa Y.
Num país que pouco produz, isto é inadmissível. Mas são capazes de reclamar, se não lhes é pago a factura ao fim do mês. Isto é básico. Simples. Em empresas publicas, ainda é pior. Não estão para isso, por outro lado, há sempre aqueles que lhes dá imenso jeito não fazer a ponta de um corno. Esses, saem mais cedo, apanham uma prainha, uma esplanada, um cineminha, sei lá. Pois, ele, há tanta coisa para se fazer lá fora.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Desamor

O que nos leva a abdicar, de um mundo melhor?

De jogos estúpidos e agéis, de formatações virais que contaminam a nossa vida.
Vencem-nos sempre, trapaceiam-nos e moldam o nosso comportamento.
Da nossa vontade que, às tantas, deixa de funcionar.
De orgulhos parvos, de feridas que não saram.
De presunções, sem sentido, de que somos melhores.

Afinal o que a vida nos tem reservado?

Uma infindável hipocrisia e insensibilidade de que tudo corre bem.
De futilidades banais que nos emperram momentos sãos e alegres.
De referências que se estragam, de códigos que nunca se alteram.
De que somos felizes neste ínfimo corre-corre gasto e inverosimil. Será?
De paixões, significados, cumplicidades, desabafos, isso é bom...
Mas a questão é que se vestem de jovial, infantil ou maduro, não deixando de transparecer
um rasgo a hesitante e brutalmente agressivo.

Mas a saudade. Essa dá cabo de nós. Moe-nos, macera-nos e deixa-nos cada vez mais fracos e desapegados. O Desamor vence. Como tem vencido sempre. Desde que o homem se conhece.

Desde que se inventaram os casamentos entre familias de casta, de condição, desde que se inventaram as relações de negócios, desde que se inventaram as regras, os padrões, as igualdades, as estirpes. Desde que apareceu o ressentimento e a desilusão. A desconfiança.
Chega de mansinho e veste a pele de lobo, aparecendo-nos por vezes, de cordeiro, para que não nos sofregue tão depresssa, os tais instantes.
Afinal, o que se anda a fazer?No fim de toda esta odisseia bela, fugaz e rápida, reserva-se-nos a morte. A morte é certa. E o que nos resta? Começamos a contar pelos dedos os ápices que nos encheram a vida. Será necessário haver tanto desamor, tanta raiva, tanta luta para nos desamarmos e desamarem-nos?
Ah, pois é verdade! Temos de provar tanta coisa aos outros e a nós, e nisso o Homem, é eximio quanto baste.

terça-feira, julho 19, 2005

Significados...

Indiferenças, verdades, felicidades adquiridas, ou que pensamos adquiridas, desumanidades, apatias, egoísmo. Tanta falta de verdade paira em nós. Tanta palavra negativa, desumana, seca. Talvez precisemos delas para nos justificarmos. A nossa verdade. Afinal, o que é a verdade? O sofrimento. Será. Não será uma estrutura fixa, feita à nossa medida. A nossa sobrevivência depende de tudo isso. Amarguras e feridas que se arrastam e, que a muito custo, lhe conseguimos chegar. Faz-me lembrar quando vou sozinha à praia, e quero pôr protector nas costas. Há sempre uma zona inalcançavel.
Selfish...selfish...selfish... está na moda, não acham? Porquê?
A vida deveria transportar aprendizagem, prazer, e alegria de viver. As referências deveriam fazer parte da nossa vida. Por exemplo, os nossos pais deveriam passar para nós, o bom e o mau. Ou então, sabermos interpretar e discernir o bom do mau. C´est ça.
Se pensarmos que há gente, que nem referências tem para dar. Como fazer? Aprendemos da pior maneira. Não será assim? Dá uma visão nula e escassa de como agir.
O desconhecido gera em nós a melhor forma de defesa negativa. O amor, não será o amor que gera amor? Mas, e o ódio ou a raiva, outro sentimento forte. Ser-nos-à tão abundante, que o que vem sempre por aí, é odiarmos e julgarmos os outros.
A vida não é simples. Contudo, estamos sempre a dizer o contrário. Ela é simples, nós é que a complicamos. Será? Para os outros. Claro que para nós, é sempre pior. Um poço de más recordações, de más experiências. Há uma grande vaidade de intolerabilidade, para com os outros e uma dose enorme de inalterabilidade para connosco. O nosso paradigma. Os nossos padrões. Os que fomos construindo, ao longo da vida, com o que fomos vendo do mundo. As imagens são assimiladas pelo cérebro e geram, em nós, reacções. Ou as compreendemos e aceitamos. Ou então, carregamos sempre um saco atrelado a nós, toda a vida e quando precisamos, vá de tirar aquela imagem ou recordação - aprendizagem à nossa maneira, talvez - que nos parece mais conveniente para agir perante tal "imagem". É assim?
O significado das coisas/situações ultrapassa-nos e a simplicidade da vida, está mesmo ai.

quinta-feira, julho 14, 2005

tipo de filme

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Você é "O sétimo selo" de Ingmar Bergman. Você é intelectual, preocupado com ocultismos. E além de tudo é um mistério!!
Faça você também Que bom filme é você? Uma criação deO Mundo Insano da Abyssinia

quarta-feira, julho 13, 2005

Ocorre-me

Preto. Branco. Criança. Animal. Bébé. Genial.
Genuíno. Pensamento longíquo. Lógico.
O olhar meigo de uma criança.
O calor da pele funde-se na amizade que surge.
Despretensiosa. Despreocupada.
Ocorre-me um amigo. Tanto queria, ter um elefante bébé.
Agora sou feliz. Já tenho com quem falar.
Ocorre-me o nome ... patusco.

terça-feira, julho 12, 2005

Um Pouco de silêncio, ao invés


Shu... Deixa-me falar…
Há tanto, que te quero contar
Desbravas-me a alma, sequiosa, por desassossego.
Invades pela quietude de minutos, pouco antes de eu adormecer.
Prenúncio voraz.
Soas a gritos mudos, onde os nus coniventes se baralham na insegurança,

Shu... apoquentas-me, ensurdecência, e fazes-me mal, como te desejo.
Sobre (vivo) nesta mudez platónica, não reclamo o que sinto, nem o que contemplaria.
Quero-te nem que seja para te revelar e, logo a seguir, te olvidar.

Shu... permite, ao menos, que te cantarole ou encante, mesmo que o feitiço te insurja ténue.
Carregas certo silêncio que me desconcentra, insubordina-me, em azáfama, e esvaece-se.
Obedeço a atitudes, vão e vêm tardias sob a forma de quimeras ansiosas,
Afinal, não passas de um devaneio silencioso.
Sem principio, nem fim. Só me lembro do meio.

Que tal, resistir-te. Guardar-te no pensamento onde só existe beleza.
Shu … leio-te, cheiro-te, tento não esmiuçar o que não quero ver, mas inebrias-me com
um penetrante bom dia e, logo a seguir, me desamparas com um contido até amanhã.

Shu … escuta
Desfalecerás como todas as extravagâncias platónicas.
Não passas de mais uma inexequível.
Palavras que mal saem de tua boca, são gestos sem leitura possível.
Trejeitos e sons, como se palrasses com uma criança. É o que tu és. É o que eu sou.

Shu…deixa-me falar
Entendo-te. Infantilidade sadia e crescente.
Sonho e porque não? Se me coagi a escrever sobre ti, poderias ser Platão.
Platão, senhor dos amores impossíveis e imperturbáveis.
Corroem a couraça dos tolos, os que se apaixonam. Por tudo e por nada.
Silencio, ao invés, de te anunciar que me desamanhas
Distancio-me sem perdão, sem espera, nem aviso.

Não te ouvi chegar.

segunda-feira, junho 27, 2005

Um pouco de silêncio I

Há muito que não vinha, aqui, dar o ar da minha graça, - se é que vós me achais graça - não tenho tido tempo, nem um pouco de silêncio.

Surge um pouco de silêncio nas palavras que me assaltam à noite.
Um pouco de silêncio, por favor.
Como que surgissem perversas, desenquadradas, desacertadas e julgadas durante o dia, como se elas deixassem de fazer sentido? Não seguem o seu rumo, tornaram-se desnaturais, e as que desensinam, e as outras simples reerguem-se sem som. Mudas, e inalcançáveis.
Ter-vos-ão dito que, sem voz, são secas. Ninguém as lê. Nem as entende. Niguém as ouve. Caem no marasmo do esquecimento, transformado num deserto de sal.
Palavras, letras, ditos, expressividades que se perdem. O trato num sem tacto. Elas escapolem na mente adversa de gentes. Sem rumo, sem destino.
Um pouco de silêncio por mim. Por favor.

Neste pouco silêncio que me resta nem, a quem amo, me ouve.
No pouco silêncio, a quem tento compreender, me vê. Eu estive sempre aqui.
Já não me ouves, já nem me sentes, já nem me cheiras. Talvez o odor se tenha esgotado, mesmo. Não sei.
A voz tenha doído tanto, que grito por um pouco de silêncio.

terça-feira, maio 31, 2005

Dias para tudo...

Hoje é o dia europeu do vizinho. E o dia mundial do não fumador. O ideal era um dia sem fumo. Portanto, hoje pelo menos, não fumemos. Bom, mas contra mim falo. Também fumo e, sei de cor os maleficios do tabaco. Não tenho nada contra estes dias, mas não acham que deveria existir o dia da mentira?
Mentirinhas graves que o nosso governo tem vindo a cometer. Para eles, é só ficarmos depenados, que está tudo bem. Juntos venceremos, os portugueses têm um dom para a tolerância que só visto. Não há governo que se "empoleire" que não minta. Portanto, nós que nem temos, nada a ver com o défice. Pelo menos, directamente, é que vamos ter de pagar a conta. Os governos anteriores fizeram a "merda" que fizeram. E nós, os trabalhadores, os que dão duro, os que pouco têm, os que ganham pouco, os que passam fome, ou que vão passar - nunca se sabe -, é que se vão ver gregos para pagar a factura contraída por eles. Aqueles que fogem ao fisco, que viajam com o nosso dinheiro, que lhes é tudo pago; desde telemóveis, a viatura, telefone fixo, etc. Porqe não pagarmos também as suas casas? Não se lembraram ainda!
Ora, isto é de uma injustiça sem explicação.

segunda-feira, maio 30, 2005

O "não" da França


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França diz "não""O dia mais não", escreve hoje em manchete o diário francês de esquerda "Libération" a propósito da votação de ontem no referendo sobre a Constituição europeia, que recolheu mais votos contra o documento. A esquerda e a direita francesas estão profundamente divididas sobre esta questão.

Publicado no Público a 30 de Maio de 2005

sexta-feira, maio 27, 2005

HANS CHRISTIAN ANDERSEN

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Danish author (1805-1875)


Ontem, par hasard, estava a dar no 2º canal um filme sobre este autor.
Era um pouco sobre a sua bibliografia. Sem ser documentário, era ficção. Muito engraçado. Eu não sabia muita coisa sobre ele. Sabia a sua nacionalidade e que escrevia contos para crianças.
Neste filme, percebe-se que, muito antes disso, começara a escrever poemas. Com uma imaginação tão fertil e descontrolada. As pessoas que o conheceram, ajudaram-no e fizeram com que ele, já que ele era extremamente pobre e não tinha ninguém - não sei se o filme corresponde à verdade, mas, durante muitos anos, viveu numa casota de cão - frequentasse a escola, para aprender, acharam que ele, a determinada altura, enlouquecera. Dizia-se que apanhara o "virus da loucura" que tinha o seu avó.
Gostei muito e fiquei agarrada ao écran até ao fim. No 2º canal é raro haver intervalos nos filmes.

segunda-feira, maio 23, 2005

Perpétuas

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A nudez, natural, bucólica.
Traz a vida e a morte, e quão queda serena, o cair das folhas no leito doce da terra.
Lembra o sentido da vida, trazendo calma à simplicidade do sonho.
Sossega o Outono que nunca mais tem fim.

Amássemos que...

Porque reages a algumas pessoas e a outras, nem por isso? A reacção surge anormalmente, para te defenderes, ainda que tenhas ou não razão. Não é o que todo o ser humano faz? Então?

Sentes-te, caído, sentenciado e, constantemente, avaliado, como se recuperasses de uma tremenda bebedeira. Como se te sentisses achincalhado e achas que não fazes parte do clã. Ainda que gostemos de ti. E tenhamos pena do que te tem acontecido. Mas és um querido. Contudo, manténs-te calado. Como se nada afectasse essa embriaguez. Deixas-te levar pela graça que as palavras têm nesse instante.

Só te lembras de manhã, quando acordas sobressaltado e com uma ressaca maior do que a bebedeira da noite anterior, de que poderias ter-te insurgido. Sentes-te mal. O que fizeste? Aceitaste. Reconheceste o erro. Sabendo à partida que a ressaca é um sentimento que justifica a autodefesa.

Sabendo que a alegação, é também um direito que te assiste, porque não empregá-la? Seria verdade? Ter-te-á o medo, de ti, apoderado, por irdes magoar quem não querias perder. Talvez, em parte. Contudo, hoje, vês as coisas de outra forma. Não que o erro seja reconhecido, só, pela metade. Mas a verdade é que, muitas das vezes, há metades certas e outras redondamente erradas.

Porque é tão importante medir e avaliar o regulamento social e financeiro para que te aceitem. Para que não tê sintas marginal. Inconscientemente, fazem com que te sintas excluído dum procedimento parvo e convencional. Nada fazes para mudar. Mas também nada fazes para te defenderes. Se nada nesta vida dura e vence. Só te ficam as recordações boas e más.

Vivências que, temporariamente, buscas para justificares os momentos felizes da tua vida. Os verdadeiros amigos, aqueles que se preocupam contigo. Os que gostam verdadeiramente de ti. Esses, sem dó nem perdão, dizem-te que erraste e erras. Lidar com tal é, verdadeira e perversamente, frustrante.

Mas também te cobram condição, e imagem representativa, aquela a que, sempre, estiveste acostumado. Nela te inserem ou te inseriste, sem dar por isso, desde muito cedo. Não será por isso que aguardam que ajas de determinada forma em determinado contexto. É muito vago, é certo. Mas é tão verdade e tão castrante. A vida, a mal ou a bem, ensina-nos o seguinte: se queremos vencer, se queremos aprender, singrar na vida temos de nos aliar aos que encabeçam.

Errado é. Sempre será. Mas não teremos, nós, o direito à escolha. Impingem, a toda hora, modelos e traços que devemos respeitar a um arquétipo de existência e feição de viver. Infelizmente, assim se passa. E é assim que agimos perante o mundo. É assim que agimos com os que nos rodeiam. Estipulamos padrões e degraus que devemos seguir. Ou seguimos essas pisadas, ou se não a imitarmos, somos diferentes, somos postos à borda de tudo. Colocados numa outra cerca que diferencia classes, categorias, laias, grupos, estirpes, castas, ascendências, sangues, etc.

O interesse, a vantagem e a utilidade são, hoje, palavras, atitudes, posturas, gestos que se vinculam fortes e redutores, finalizando em nós, um baptismo de sinónimos como a grandeza da nossa condição mais conveniente e determinante.

Será preciso tanto dogma, tanto cargo, tanto escalão, tanta imensidão para conquistar tanta “superficialidade” e no fim, o que fica para que te reconheçam nos dias que te faltam?

- Apesar de tudo, era uma excelente pessoa, e tão gratificante foi, tê-la(o) conhecido.

- Ou sempre foi um coitado, não teve sorte na vida. Nem filhos teve para perpetuar o apelido.

Mas será que, hoje, o amor já não vence?

Parece que tudo contrai podridão e caruncho.

terça-feira, maio 17, 2005

LES CHORISTES

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Vi este fim de semana um filme a não perder!
É de uma ternura extrema.
Faz lembrar um pouco o - "clube dos poetas mortos" - a união e a cumplicidade que existia entre os alunos. Este filme, apesar de, se situar num ambiente - tipo de colégio - diferente que alberga crianças de outro estatuto. Pobres, orfãos, etc. Não deixa de ser, também, um excelente filme.

segunda-feira, maio 16, 2005

Morre lentamente

A vida!


Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o escuro ao invés do claro e os pingos nos is a um redemoinho de emoções, exactamente a que resgata o brilho nos olhos, o sorriso nos lábios e coração ao tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte, ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.
Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade.

Pablo Neruda

ambígua a vida, não?

Ser, não ser
Ter, não ter
Saber, não saber
Estar, não estar
Querer, não querer
Sentir, não sentir
Chorar, não chorar
Rir, não rir

Apetecer, não apetecer... Não me apetece ter de me apetecer. Só me sinto bem onde não estou! Tento perceber estas querenças ambíguas. Ou não há explicação. E nem tem de haver. Quem sabe! Querer paz e querer luta. Dar sem querer receber. Dar para receber. Querer amar, não querer amar. Querer ser amado, não querer ser amado. Estranha feição de me ver.
Conhecer-me-ei verdadeiramente?

Tantos e tantos verbos, e quantas horas demorariam a achar um que se ajustasse à asserção. As palavras, hoje, ganham autonomia e assertividade pelos sentidos bocais arrojados, de e a quem faz sentido.
É bonito, é chavão, é intenso. E não é por isso que a profundidade caracteriza as palavras, encantando quem as entende, ainda que, assumam sensibilidades e sentidos extremos, mesmo que por vezes, não tenham nexo. Prosperamente, existem pessoas a quem as palavras deslumbram. A criatividade que as palavras propõem carregar, só o que se assume mais fragil e sensível, as decifra. Transportam tal impressionabilidade em códigos viciantes e sedutores, que a magia e a paixão que as palavras obtêm, faz com que contemplemos outro mundo. Que seja o da fantasia. E porque não?
A vida, por si, já é dura e concreta demais, para que nos mantenhamos neste estado de desgraça em que andamos - Cegos, insensíveis, inodoros, mortos - ou melhor, sobrevivemos. Nem é tanto assim.

Pablo Neruda, num dos seus poemas, dizia: ... morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito...

Catálogos e mais rótulos

Ocorreu-me esta ideia. E que não é, de todo, estapafúrdia.

Inevitavelmente, se pensarmos um pouco, já rotulámos alguém. Por qualquer motivo, provavelmente, estapafúrdio. Mas não é o ser humano, como animal pensador que é, que evita discernir essas discrepâncias? Claro que sim.
As nossas actuações revelam uma conduta habitual, neste sentido, o que faz de nós, insensíveis à palavra, e ao entendimento sagaz.
O encadeamento do nosso pensamento tolda-nos, muitas das vezes, o raciocínio que se pode tornar lógico ou ser agradavelmente iluminado e surpreendido, para que a ideia que possamos ter do alter – o outro – surja deturpada. Desfiguramos à partida qualquer ser que não gostemos. E por aí afora, vem o rótulo, a decepção, o desencanto, enfim toda uma série de defeitos aos nossos olhos.

- Não fazes parte do meu meio social e económico, não te identificas comigo, não me agradas, cheiras mal, não sabes falar, não tens formação superior, não me és compatível, para mim não serves – Estes e outros pensamentos prioritários que nos assaltam a medíocre organização da nossa intacta natureza mental. É a de que dispomos. E é inviolável. E não fazemos qualquer triagem, doa a quem doer.

Ora, os catálogos são necessários. É uma verdade. Colocada sobre nós e assente. Pensemos num catálogo vulgar. O seu objectivo principal é vir inscrito a discriminação das propriedades, assim como, o preço adjunto aos produtos. Utilizado, somente, em objectos, coisas, assuntos, temas, se quereis ter uma leitura mais abrangente. Nunca a, pessoas. Mas que o fazemos, sem dúvida alguma. Vivemos com esta ideia disposta. Para tudo, é preciso catálogos, rótulos, índices, róis, listas e estruturas sempre iguais e definidas.
Senão, abalroamo-nos ou abalroam-nos. A nossa estrutura está tão sedimentada e criada pelas nossas famílias e pelas leis sociais. Elas têm de se manter e continuar preservadas. Será que nunca o sentimos na pele?

sexta-feira, abril 29, 2005

Como vai a nossa polícia

É uma vergonha assistir, ao q se passou ontem. Uma colega estacionou ontem a sua viatura na av. prinicipal do parque das nações. Ao fim de um dia de trabalho, para se ir embora, só lá tinha o local.

Até aqui tudo bem, digamos que, como tem havido uma guerra com a EMEL entre as Câmaras Municipais de Lisboa e de Loures, estaciona-se onde se pode até porque os parquímetros que há, não funcionam.

Além disso, esta zona está cada vez mais povoada de escritórios e não temos sitio para estacionar. Não querendo ir contra a aplicação da lei, toda a gente, se pensarmos assim, deveria ser multada. Não se passam multas, só porque se embirra com determinada viatura. E isso acontece frequentemente.

Mas a questão, é preocupante. A minha colega principiou, desta feita, uma cruzada com todos os serviços inerentes ao problema e quase sem sucesso. Sem exagero, fez dezenas de telefonemas. O único lado positivo desta estória, é que se fica com todos os contactos, para uma eventual repetição.
Começou pelos serviços de reboque, polícia municipal, divisão de trânsito, PSP local e ninguém sabia da dita viatura. Não se entende como é que não há - ou se há é muito pouco - cruzamento de informação entre os vários parques de reboque e os diversos serviços que tratam destes assuntos.

Depois soube-se que o parque do Campo Grande - se não me falha a memória - não tem telefone, e ontem houve futebol. Como eles se comunicam por rádio, era impossível saber, naquela altura, daquela informação. Ela tinha de esperar que o jogo acabasse. Os rádios estavam ocupados só para aquilo.
E não se criam alternativas? Os rebocados em dias de futebol, estão bem arranjados, têm de esperar pelo dia seguinte para saber do carro. Isto de facto, merecia ir à DECO. Portanto, a minha colega às 21.00 ainda não sabia da viatura. Até hoje não sei o que se passou. Hoje, ainda não veio trabalhar.
E assim corre o nosso País.

quarta-feira, abril 27, 2005

Qual quê

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Quanta poesia se perde pelos trilhos de cada dia.

Somos figurantes e figurinos das nossas próprias locuções.
Plateias dos nossos trechos, certezas únicas transformadas em letras que se vão esbatendo na insignificância, na desilusão, na inoportunidade, no desencanto do tempo.

Qual quê: o que nos é fadado, o que temos espetado no corpo desde que nascemos, desde que somos gente, desde que nos conhecemos, desde que nos conhecem.

Esperam um cumprimento de regras, falsas anuências, verdadeiras asperezas, incongruências, obliquidades e formatações despropositadas.


sensibilidade à flor da pele

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Há sempre filmes que nos comovem, verdadeiramente. Os que nos marcam de uma forma negativa ou positiva, por ter uma ou outra cena, comovente ou chocante. Alguns deles são um marco na história do cinema. E o "Cinema Paraíso" é um deles.

Ultimamente, tenho tido a oportunidade de ver outros filmes bons, e também europeus, que não conhecia. Já tinha ouvido falar deles, mas nunca tinha conseguido vê-los. Um grande feitio ter comprado um DVD, para aderir às novas tecnologias, e enriquecer cinematograficamente.

Este "Cinema Paraíso" de Giuseppe Tornatore é uma verdadeira reliquia. Já o vi quatro vezes e choro sempre. Principalmente com o final. É um, dos finais mais mágicos e perfeitos.
A cena dos beijos é uma cena tão bem conseguida, e com a música esplêndida do Ennio Morricone que é impossível ficar indiferente. Permanece no Top 10 dos meus preferidos.
Não nos podemos esquecer de Philippe Noiret, magnífico actor com um historial de invejar. "La grande Bouffe"; "O carteiro de Pablo Neruda"; "la Vie en Chateau", com Catherine Deneuve. Lembro-me destes. Porque os vi.

terça-feira, abril 26, 2005

Há sempre alguém que nos faz falta

Ilustres visitantes, vejo-os tão pouco. Poucos, é o que são, ou, quase, nenhuns. Não será a mesma coisa? Qualquer dia, serei a única. Não me maça. Achei relevante falar sobre, por ser um blog que reflecte, sobretudo, de emoções. Disparates, é o que é! Dir-me-iam, vocês!
São palavras tão intimas que partilho, e sem razão de ser, a um espaço que se entende como um diário, que não é, e visto ser algo a que tanta gente tem acesso. Bull sheet! It´s true, but it´s only our sense. The meaning of life. Don´t you think so?
O que de mais básico existe em nós, torna-nos tolos? É isso?
E para quê? Se pudemos evitar, qual é a recompensa ao expormo-nos a quem não nos merece. Se pudemos aniquiliar, de início, o que ainda não aconteceu. E pode ser terrível, castrador. E para toda a vida. Melhor será nem falarmos sobre o assunto. Vivemos despreocupados, desatentos, e a vida passa-nos ao lado. Tão bom seria, sentirmos absolutamente nada. Uma amiga dizia-me muitas vezes que a ignorância é um estado de graça. E não é? Dá jeito. Basta!
Mas eu cá por mim, quero sempre mais, quero escapar à rotina dos dias.
Toda a minha vida quis sempre mais. Espero sempre mais de alguém que me faz falta...
Mas quem eu quero está sempre tao longe de mim. Longe dos sonhos que procuro.

simplicidade frágil

Solidão. Fragilidade desacompanhada. Escape desatinado. Foleirice ajustada. Desequilíbrio. O que é ser normal? O que é ser simples. Frágil. Insignificante. Perceber a incompreensão que fazemos constar aos outros.
Ou é a felicidade que não dá tréguas. Viaja por nós e, larga bocados de estórias daqui e dali.
Expele ausência de tudo e nada. Não pedes muito. Nem tens de ser modelo.
Só reclamas por um afago. Desejo-te um excelente dia. Podias tapar-me as costas com aquele xaile. Lembra-me de ti. Podia tapar-te as pernas, a janela está ligeiramente aberta. Sentes frio.
Podias arredar-me o cabelo para trás da orelha, ou é-te dificil.
Não insisto, mas sabia-me bem tocares-me no queixo. Não te dá jeito, ou és tímido ou não queres que te leia a alma, mas se me contares uma estória, dormirei muito melhor.
Queres que te puxe a roupa para cima? Prometo que dormirei como um bébe.
Não tens de ser sensual, se é essa a dificuldade, sê carinhoso. Podias?!! Podias!!? Tantos podias... Queres mesmo? Publica as tuas vivências em meu corpo, musicaliza o que te faz feliz. Pega num lápis. Podias desenhar claves, e o mar. Não te esqueças das planicies, montanhas e jardins cheios de pétalas e folhas a cair. Sinto-as a cair em meu ventre.
Não tens que me beijar. Passo, ao de leve, os meus dedos esguios pelos teus ombros, e soltas um gemido, como se a alça do meu soutien se quisesse soltar. Revoltas a minha pele suave. Transformas num dia comum horas que não quero esquecer. Fazes significar um dia de cada vez. Amanhã poder-me-ias sussurrar: "Quão bom é ter-te a meu lado."
Beijo-te na testa e levas a frágil lembrança do que quero esquecer.

quarta-feira, abril 20, 2005

Guillotine...

Na semana passada foi cartaz, uma performance em co-produção com um grupo de alunas de 13 a 15 de Abril de 2005 na Sala 108, pelo Departamento de Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema.

apresenta

GUILLOTINE

Sinopse Num mundo onde as pessoas são até ao pescoço, são até onde se podem encharcar de enjoo...
Resta o som cortante da lâmina.

Com texto de Andreia Farinha
Interpretação Mia Farr Tatiana Nozes Pires
Cenografia Andreia Farinha
Figurinos e Caracterização Carla Ferreira Rita Guerreiro
Encenação do colectivo

Gostei da performance. Considero o texto bastante agressivo e sofredor. Capaz dos nossos dias e perfeitamente aceitável e compreensível. Não podia ser mais apelativo social e moralmente. Os valores que se perdem num nicho de regras que temos de seguir e aplicar.
A liberdade de ser o que se é. Esta foi a leitura que fiz da performance.
A depressão comum, que nos leva muitas vezes ao suicidio. A insatisfação e a solidão.
Achei muito original a forma como o público se posicionou. Alguns sentados em cadeiras, outros no chão. A parte interessante é que todos tinhamos de enfiar literalmente a cabeça num pano que estava suspenso nas extremidades da sala. Só se viam as nossas cabeças. Dai Guillotine.

Beijo
Parabéns à Andreia

segunda-feira, abril 18, 2005

...ainda Rebecca II

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Mais...Rebecca

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...ainda Rebecca

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Rebecca Horn

http://www.the-artists.org/ArtistView


Por acaso, e estas coisas acontecem mesmo, por acaso. Não estava à espera de ver nenhuma exposição no domingo, após o almoço de anos do meu Pai, abalei-me com o meu primo a caminho do CCB para ver uma exposição de Rebecca Horn, que por acaso, terminava ontem.

Artista plástica alemã mostra maravilhas na arte do engenho escultural. Muito engraçado e diferente. Para os mais leigos, que é o meu caso, surpreendeu-me bastante. Para os estudantes de arte e design - que é o caso do meu primo - Rebecca é uma referência sem deixar passar em branco. Tem peças fabulosas e vê o mundo com sensibilidade sob várias formas, geometricamente abstractas e, à primeira vista, sem sentido. Mas tem sentido e tudo encaixa sob o ponto de vista da origem da vida. Ela trabalha, essencialmente, com ferro, metais, grafite, carmagniano, vidro. Há também uma grande capacidade de a música se conseguir entranhar nas performances que trouxe a conhecer.

Olhares









http://www.olhares.com/utilizadores/detalhes.php?id=10164

o tempo urge, talvez, porque o contamos.
só o sabemos, do que mora no relógio.
as alegrias e as tristezas, as amarguras e os prantos
coniventes, viram traços obscuros.

Pode ser essa linha solta de fragrâncias,
que resvala nos meandros da mente intelectual,
insurge incapaz, insensata,
embebe-nos de insatisfação.

o tempo urge, agarra o espectro de alguém
e planeia a morte do futuro, desconcerta
a democracia tola do tempo de outrem.

O tempo urge à noite,
de manhã, e um dia assim finda,
talvez queira escapar entre mãos e corpos
Daqueles que o abandonam.

o tempo urge entre pedaços de nós,
vagueiam, emparvecem, reprimem,
e outros fragmentos deambulam,
neste rol teimoso que ninguém compreende,
é a ligeira leviandade.

O tempo urge, abre a cortina
sustenta-se na indestrutibilidade da vida
E o tempo urge
Ao que se presta.




quarta-feira, abril 13, 2005

Sossego

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Se o passado, simplesmente, se incumbisse de perecer.

Permanecer adormecido, talvez, mas não basta, nem calha bem.
Abandonar momentos, salvo, essências felizardas.
Distingo, nítidos, os contornos da tua alma, e como enchiam de entusiasmo o sopro do resto dos dias.
As auroras resplandeciam, as inocências mais patetas engrandeciam, em perfis, quase perfeitos, delineados aos crepúsculos mais pálidos, e autênticos jardins nasciam dentro de nós. A verdadeira pertença da felicidade. E o que aconteceu?

Em tempos que já, muito, lá vão, pedias-me só pelo olhar:
- Espera por mim, descemos juntos – planeavas e resistias à memória, súbita e lúcida, sob qualquer faísca que surgisse.

Primavera de 90 e alguns, noutros anos primaveris a chuva era rotina nas nossas horas, ininterruptas de ocasiões intermináveis.
A cumplicidade dos códigos guiavam, desimpediam e ultrapassavam atalhos, que apareciam delicados.
Verdadeiras emboscadas e travessias no deserto.

A simplicidade e a delicadeza dos passos nos uniam, e despegavam-se. Afinal, a suavidade das tuas palavras, feria-me. Verbalizavas frases inúteis e práticas em contextos pantanosos para não sumires. Completou-se o ciclo. Ao que tivemos direito. Queres contar-me o que se alterou?

Os contornos iraram-se, e o registo que tenho de ti, já é outro.
Sem querer, insiro novos códigos e registo-os, desordenadamente entre as brechas que duram. A tentativa de cura só deixa a convalescença tardia.

Fizeste-me falta. Tornaste-me clara de consciência. Completaste o teu círculo a meu lado.
Sinto desvantagem, será propositado. Sou livre, afinal.

Vejo com mais clareza e sinto o Sol, o meu Sol. Entra-me em casa todas as manhãs e rompe as cortinas e os lençóis afastando-os com doçura o orvalho dos sonhos.

A arte de desmistificar a solidão é tornando cada dia mais franco e apegado a nós próprios. Esse prodígio de abnegar às coisas negativas, e impeditivas, vivermos de bem com a nossa consciência. Conseguir um bom resultado ao estar de bem com a vida. Contigo. Comigo.

quinta-feira, abril 07, 2005

Há horas e dias

Há algum tempo que não vinha aqui. De facto não tenho tido sequer tempo para abrir o e-mail. Lembram-se dos posts anteriores, em que eu falava de polivalência. Pois, nem a propósito. A polivalência não me preocupa, já a ausência de reconhecimento, melhor ainda, o aumento da denegridade do trabalho quando é feito com afinco ou empenho, já é outra coisa. O reconhecimento não é mau, mas a falta de respeito pelo nosso trabalho é muito pior. Horrível, diria mesmo. É como se nos estivessem a dar tarefas que não nos são habituais, ainda que as saibamos fazer ou já a tenhamos feito, em tempos, mas com o intuito de as denegrir, constantemente. E por quê? Devido a preferências, a gostos pessoais, a falta de cumplicidade, a falta de - "encher o cú a dirigentes com paninhos mansos" - desculpem-me a linguagem menos própria, mas passa-se em tantos serviços. E tão próximos de nós. Deixo aqui o meu desagrado e se quiserem comentar, agradecia. Adoraria saber que, ou se têm perspectivas diferentes ou iguais à minha. Não acham que deviamos mencionar nos C.V. estas tarefas extraordinárias. Era fascinante.

terça-feira, março 29, 2005

Fugir para quê

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...«que país é este, que agarra as pessoas com tanta força ao mesmo tempo que lhes dá vontade de fugir?».
Pensando nesta frase, ocorre-me: como não ter vontade de fugir deste amontoado, desta panóplia de novidades que temos tido na politica, na economia, na crescente criminalidade, na vasta entrada e fácil de estrangeiros ao nosso país, na acessibilidade a drogas que os jovens têm cada vez mais, na miserabilidade de ordenados, na carestia de vida, de uma forma geral, na crescente diferença entre ricos e pobres, na ausência de chuva que tem levado os nossos agricultores à míngua e dos animais que, mais tarde ou mais cedo, acabam por morrer a fome e à sede. Enfim, um cenário não muito agradável. Neste cantinho da Europa, somos um dos povos europeus mais sacrificados.
Por outro lado, este país agarra-nos com força que, ao sermos latinos, criamos raízes, laços. E está-nos no sangue a emotividade, a afabilidade, a generosidade. Apelidam-nos de hospitaleiros, de quentes. A questão do patriotismo, também é uma razão forte. Lembrem-se do Euro 2004. Só é pena, sentirmos e manifestarmo-nos quando surgem eventos deste tipo. Mas penso que será um motivo forte para explicar o que nos prende a este magnifico país. Além disso, temos um clima, que não é dos piores. É óbvio que nem toda a gente pensa assim. Nem é que conheça muito do mundo, mas já viajei para alguns paises da Europa e gosto muito de Portugal. Acho que o devíamos preservar e cuidar mais do que é nosso.

Quaresma

Época de provações, de penitência, de jejum, de contenções, de todo o tipo de abstinência, de não se poder comer isto e aqueloutro, mas também de meditação. Período em que a Igreja Católica relembra os 40 dias de Jesus Cristo no deserto. Se bem, que na cultura ocidental tem sido mais abrandada esta tradição. Há muita gente que, ainda hoje, não come carne na santa sexta-feira.
Nem a propósito, no meu último post, nem era próprio, nesta época, fingir-se os orgasmos. Impõe-se, - passe-se a expressão - deixar de fazer algo que se considerasse prazeroso.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quaresma

Ao fazer uma busca pela palavra Quaresma tropecei num link sobre um filme de José Álvaro Morais.

«(...) É ainda à volta da grande burguesia rural portuguesa (ou melhor, dos restos dela, ou seja, do estatuto, que sobretudo a enclausura) que o filme passa-se - na zona da Covilhã, Serra da Estrela, relativamente perto da terra natal do realizador, Coimbra, no centro-norte de Portugal.
Em "Quaresma" há menos sol, há mais gravidade, a "terra" faz-se sentir de outra maneira mais pesada, o próprio ar e o próprio céu parecem desaparecer numa mescla de tons cinzentos. Mantém-se o desejo de fuga, mas agora parece que a fuga (real ou ilusória, conseguida ou falhada) só se pode fazer continuando para norte - para a Dinamarca e para as praias austeras do mar do Norte. Não será forçar muito a nota dizer que "Quaresma" é como um "road movie" em circuito fechado, ou um "road movie" que anseia pela estrada que o confirme.
Todas as personagens que o filme segue - que são as personagens que ainda guardam um desejo de movimento - seguem as vias das suas fugas (im)possíveis e imaginadas.
Aí surge, em especial, a personagem de Beatriz Batarda, cuja semi-loucura atesta ao mesmo tempo uma hipótese de fuga e a sua impossibilidade: como uma "enfant sauvage", o seu desejo de liberdade esbarra nas fronteiras do seu espírito (e de resto, não estamos seguros de que a sua perturbação não tenha raiz, justamente, na sua clausura). É que as estradas de "Quaresma" têm todas um fim: ou acabam no alto da Serra da Estrela ou nas margens do mar do Norte.
A grande pergunta de todos os filmes de José Álvaro de Morais, mantém-se: que país é este, que agarra as pessoas com tanta força ao mesmo tempo que lhes dá vontade de fugir?»

Luís Miguel Oliveira, in dossier promocional para Festival de Cannes 2003

quarta-feira, março 23, 2005

orgasmos fingidos

O tema, orgasmos fingidos, tem barbas, mas só para alguns. Não nos podemos esquecer que até há bem pouco tempo, era pecado, sequer, falar nisso. Faz parte da nossa tradição, é uma questão cultural.

A curiosidade, e ainda bem, tem crescido ao longo dos tempos, no sentido de se decifrar este enigma. Porque é que as mulheres fingem os orgasmos? Porque têm de o fazer? Os homens já se habituaram a esta realidade, mas nunca se questionaram porque é que as mulheres o fazem. Felizmente, a nossa mentalidade tem crescido, tornando-se mais aberta a um tipo de questão tabu, como esta. Há tanta gente que não sabe o que é um orgasmo, ou se já sentiu algum. Como se manifesta. Como se faz. Como se aprende. Acredito, ainda, que nalgumas zonas do nosso país, e no seio de algumas camadas sociais não se sintam capazes a discutir e a querer saber do assunto. Em tempos que já lá vão, o prazer da mulher não era tema de conversa, quanto mais para se fazer no leito com o marido. Existia um único fim: o homem satisfazer-se.

Não querendo generalizar, a minha opinião, ainda, quanto a alguns homens de hoje é que ao tentarem minimizar o problema e para não se sentirem humilhados, fazem crer ao mundo que acreditam que as mulheres fingem, quando no fundo, eles próprios no acto sexual convencem-se a eles próprios e a elas que conseguem fazer vir qualquer mulher. De facto, supõem que têm esse poder e é suficiente para lhes dar prazer. Isso não basta. Ainda que o façam, a consumação ou o auge duma relação sexual, não se completa só por isso, quando ela ou ambos se vêm. Há questões mais importantes e determinantes para se atingir esse estádio: como a exploração da sensualidade, a exploração da voluptuosidade, a partilha do toque, do olhar, a ligação sensitiva que é tão importante e que não tem nada a ver com o orgasmo, pelo menos directamente. Onde é que está institucionalizado ou escrito que uma relação sexual deverá ter como desfecho o orgasmo? E até mesmo nesta matéria, torna-se difícil encontrar uma pessoa que nos complemente. Queremos sempre tudo.

Ou queremos cumplicidade ou compatibilidade à exploração do outro, com o outro.
Se não conseguimos essa envolvência queremos como prémio de consolação o orgasmo. Isso é válido, e acontece frequentemente. Tentamos filtrar e explorar o que o outro tem de bom ou de melhor. Nem sempre acontece. E é uma porra.

terça-feira, março 22, 2005

Quando....

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Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.


Álvaro de Campos

segunda-feira, março 21, 2005

Polivalência ou Versatilidade no Amor?


“De repente, num bar, numa festa, naquela praia, na fila do banco - não importa -, os olhos se encontram. Primeiro uma ansiedade, um calor no peito que logo se espalha em calafrios que procuramos disfarçar. Um leve suor nas mãos. No primeiro encontro, os lábios secam um pouco antes do primeiro beijo, ou não há sequer beijo, e as palavras tremem embaraçadas em pensamentos desordenados. Joelhos que, mal, sustentam o peso do corpo. Esquecemos o mundo lá fora em eternas horas de silenciosa saudade ao telefone, perfumadas com aquela inquietude própria dos amantes ... Desvarios comuns entre estranhos"

Percebamos um pouco este mecanismo. Ao sermos, inata e tendencialmente, polivalentes ou versáteis no serviço, aplicamos a mesma regra noutras áreas da nossa vida. Por outras palavras aprendemos a ser solícitos e zelosos na relação com os outros. Nas relações familiares, de amizade, de amor. Não será? Contudo, essa aplicabilidade no amor, revela-nos, quase sempre, subjectivas condicionantes, senão, importantes em detrimento à apreciação que fazemos dos outros. Como conhecer bem o outro e aplicar e bem essa polivalência que nos parece tão fácil e eficaz no serviço e que a utilizamos de uma forma despreocupada e livre. É o que somos e como funcionamos. No entanto, fora do contexto de trabalho é diferente, e tão mais difícil.

O exemplo acima descrito tem continuidade enquanto a paixão e a sedução perduram.

Logo, a polivalência no amor, é importante e quando a conseguimos manter, faz de nós vencedores e merecedores da nossa própria existência. E ao estimular o nosso saber, a noção que temos de nós próprios, torna-se mais nítida. A auto-consciência é essencial, e ao ser explícita aos outros, actua como uma identificação. A essa identificação está associada um cunho, que por vezes inflige nos outros, um esforço errado e em vão, ao tentar-se perceber o outro. A tarefa de desvendar esse cunho é sempre demorado e às vezes indecifrável. A polivalência neste caso, nem existe. O que quero dizer é cliché, mas é tão verdade: “Sejamos primeiro fiéis a nós próprios e depois aos outros. A confiança gera polivalência. E esta polivalência, de que falo, traz tantas conotações e sinónimos atrás. Não acham?

Polivalência é só para alguns - II (é fundamental)

O campeão, hoje, tem que ser polivalente. O conceito moderno de administração inclui a polivalência entre os requisitos básicos de um profissional bem-sucedido. Se quiser vencer, o profissional deve agregar valores e desenvolver o maior número possível de habilidades.
Ter a capacidade de acumular recursos e funções que o tornem apto a desenvolver uma série de actividades, em curto espaço de tempo e com os melhores resultados possíveis, não é para todos.
O perdedor, ao contrário, sempre reclama que estão lhe cobrando muitas tarefas.
Ter uma boa visão do seu presente, da sua realidade actual, daquilo que você já sabe fazer bem e daquilo de que precisa aprender. Estes são os primeiros passos para ganhar consistência, eficiência, velocidade e assertividade nos seus actos. Depois, é empenhar-se em somar aos seus conhecimentos aqueles que vê serem necessários para manter-se satisfeito com seu próprio desempenho, e continuar em sintonia com a velocidade exigida de um campeão. E cuidado para não confundir velocidade com corre-corre, que são sintomas opostos. O corre-corre reflecte apenas falta de planeamento, e muitas vezes não permite que a pessoa saboreie as pequenas vitórias quotidianas, que alimentam o sonho das grandes vitórias.

Enfim, a capacidade de ser polivalente e de usar o tempo de maneira versátil passou a ser fundamental para quem não quer abandonar os seus sonhos. Como diz Leonardo Boff: "A utopia é o que impede o absurdo de tomar conta da história". Por isso, seja polivalente e concretize os seus sonhos!

Polivalência é só para alguns


Pois. A polivalência no serviço é, mesmo, só para alguns. E não é cliché. É a nossa realidade. Os prejudicados, nesta matéria, descobrem - e ficam-se por aí, claro - que a remuneração é sempre mais escassa para aquilo que fazem. É óbvio que há excepções. Otherwise, nunca existiria a regra. Dever-se-ia criar uma cláusula nos contratos de trabalho ou afins, prevendo-se algumas tarefas extras ou incomuns, para evitar que a polivalência só calhasse aos outros. Normalmente são sempre os mais desgraçados, os mais disponíveis, os mais interessados em que as coisas funcionem e nunca os que estão preocupados em fazer só o que lhes compete. O que é afinal um trabalhador produtivo? Será correcto dizer que é só aquele que cumpre o seu horário e as tarefas que lhe estão inerentes?

A competência é validada pelo cumprimento do horário? Ou a dedicação e a responsabilidade estão inversamente proporcionais às competências, banindo completamente a polivalência. Poder-se-á dizer que um trabalhador que está mais preocupado em agradar ao chefe – o comum lambe-botas – é aquele que se dedica exclusivamente a ser polivalente sem olhar a horas extraordinárias, mesmo não sendo pagas ou reconhecidas. Ou abnegamos tudo isto e pensamos que, a palavra polivalência deixa de ter a conotação importante e pesada por si mesma, e assume a verdadeira leitura e consideração que ela deve ter. É preciso que as coisas funcionem. Então metamos mãos à obra e ponto final. Especulações e mais especulações.

Numa perspectiva mais abrangente e minha, os colegas dever-se-iam apoiar mutuamente no sentido de fazer funcionar a instituição ou o gabinete numa óptica de equipa única, e nunca à espera que o chefe repare mais neste ou naquele, porque um é que fez e o outro está sentado a ver. A responsabilização reside na consciência de cada um.

terça-feira, março 15, 2005

FENG SHUI

A propósito de técnicas para melhorar o nosso bem-estar geral. Tantas mais, há. Lembro o yoga, ou de algumas técnicas budistas, ou se, com alguma leitura sobre estas matérias, conseguiremos atingir alguma concentração e harmonia: vermo-nos por dentro e adquirirmos capacidade e criatividade para viajar à descoberta fantástica do nosso eu. O feng shui, é outra, tem uma vertente cósmica.
"harmonic environment around us".

O Feng Shui é a antiga arte chinesa de criar ambientes harmoniosos. Originou-se há cerca de 5.000 anos, nas planícies agrícolas da China Antiga. Seu desenvolvimento vem sendo desde então, aumentado e evoluído, chegando aos dias de hoje, como uma disciplina capaz de nos oferecer um sistema completo, liga-nos intimamente à natureza e ao Cósmico. Seus diagnósticos e resoluções são capazes de resolver quase todos os problemas envolvendo uma casa e as pessoas que moram nela. São adaptados ao moderno estilo de vida, nos levando a entender e compreender uma sabedoria muito profunda que nos ensina a "viver em harmonia com a natureza". Em outras palavras, o Feng Shui é uma antiga arte chinesa que visa a harmonizar os ambientes em que as pessoas vivem e trabalham.

Les principes fondamentaux

Par NGUYEN Ngoc-Rao

L'Univers, c'est l'oscillation des deux forces Yang et Yin, et leurs vicissitudes.
L'être humain fait corps avec l'Univers : c'est un microcosme au sein du Macrocosme.
L'Univers est en évolution permanente, et cette évolution se fait par cycles.

A tradução literal do termo Feng Shui é Vento-Água. Mas significa muito mais que isso. Os chineses dizem que essa arte é como o vento que não se pode entender, e como a água, que não se pode agarrar. E também é o vento que traz a água das chuvas para nutrir tudo o que está em baixo.

Suas teorias são baseadas no pensamento máximo chinês, o I Ching, juntamente com as leis do yin yang e cinco elementos - vitais em toda a cultura chinesa. Portanto, para se estudar mais profundamente o Feng Shui, deve-se ter em mente, que um estudo aprimorado e profundo dos 64 hexagramas do I Ching se faz necessário, e também as leis do yin yang, os opostos complementares, e os cinco elementos e seus relacionamentos. Toda esse estudo visa o entendimento do modo chinês de ver e entender o mundo e o universo, com seus relacionamentos e eternos ciclos de mudança. Lembre-se sempre: "Mudança é a Lei da Vida".

Devemos sempre ter em mente que o I Ching é um intermediário entre o nosso "EU" interior, o nosso inconsciente, nosso Mestre Interior e o ambiente; dessa forma, nós o utilizamos para obter as respostas que temos dentro de nós.

A energia Chi (também referida como Sopro Cósmico, ou a respiração do dragão). Não devemos confundir e dizer que a tradução para Chi é energia. Chi é muito mais que energia.

Em Feng Shui, existem dois tipos de Chi: o Sheng Chi (Chi benéfico), e o Sha Chi (Chi maléfico). Podemos relacionar todas as coisas como possuindo um Sheng Chi ou Sha Chi. A frase "sem Chi, sem vida" é essencial no entendimento das forças dinâmicas do vento e da água.

quarta-feira, março 09, 2005


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Geni e o Zepelim
Chico Buarque, 1977-1978
Para a peça "Ópera do malandro"

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo "mudei de idéia"
"Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Essa noite me servir"
Essa dama era Geni
Mas não pode se Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela-e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos,
O bispo com olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

segunda-feira, março 07, 2005

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Ela pula e acelera,
é a menina que galga e enlaça.
Inventa, contagia.
E põe-se a pintar rebelde qualquer pedra na areia
Com seus jeitos cabriolas,
Diz ao fascínio que desperte terno
Num dia de chuva, e chilreia ao riso
Como se, de um dia de festa se tratasse.
Sendo quão ventura.
Brinca, ri com tal frenesim
Que pede às crianças: “sejam crianças”!

Dia Internacional da Mulher - 8 de Março

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Poemas para todas as mulheres

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos reacendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

Vinicius de Moraes

Mulher

"São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão principalmente,
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que actua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."

Vinicius de Moraes

quinta-feira, março 03, 2005

sonhos e refúgios

"Oh, quem me dera não sonhar mais nunca.
Nada ter de tristeza nem saudades
Ser apenas Moraes sem ser Vinícius!
Ah, pudesse eu jamais, me levantando
Espiar a janela sem paisagem.
O céu sem tempo e o tempo sem memória!
Que hei de fazer de mim que sofro tudo
Anjo e demónio, angústias e alegrias
Que peco contra mim e contra Deus!
Às vezes me parece que me olhando
Ele dirá, do seu celeste abrigo:
Fui cruel por demais com esse menino..."

Vinicius de Moraes

Paixões (II)

Quem pretende destruir as paixões, em vez de as regular, quer fingir-se inocente.

Voltaire

Paixões (I)

Mau grado o que dizem os moralistas, o entendimento humano deve muito às paixões, que, de comum acordo, também lhe devem muito: é pela sua actividade que a nossa razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer porque desejamos gozar; e não é possível conceber porque aquele que não tivesse desejos nem temores se desse ao trabalho de raciocinar. As paixões, por sua vez, originam-se a partir das nossas necessidades, e o seu progresso dos nossos conhecimentos; porque só podemos desejar ou temer coisas segundo as ideias que temos delas, ou pelo simples impulso da natureza; e o homem selvagem, privado de toda a sorte de luzes, só experimenta as paixões dessa última espécie; os únicos bens que conhece no universo são a sua nutrição, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a fome. Digo a dor, e não a morte; porque jamais o animal saberá o que é morrer; e o conhecimento da morte e dos seus terrores foi uma das primeiras aquisições que o homem fez afastando-se da condição animal.

Jean-Jacques Rousseau

quarta-feira, março 02, 2005

Paixões



O que é que nos define? São as nossas paixões. O problema é que não queremos definir nada e somos todos tão diferentes, que definir, e dar um fim, não faz sentido.
Não é o que somos e o que fazemos mas o que podemos ser e fazer.

Antes disso, tenho-me a mim, tenho o que eu sou e o que eu posso ser. E, sem ajuda, eu amo. Tenho o amor em mim. Amo os animais, amo a minha terra, amo o mar, amo o alentejo, amo a minha avó. Assim como Narciso se ama a si mesmo. O Monstro pode amar a Bela. Pedro pôde amar Inês. Amor retribuído. Amor materno. Amor de um homem. Amor de uma mulher. Amor de um Deus. Amor-próprio. Amor sofrido. Amor secreto. Amor platónico. Amor. Amores.

O amor e a paixão estão-nos nas entranhas. Tal como o medo. O pânico comprime o estômago, assim como O amor esmaga o peito e estoira com a cabeça. Nas vísceras estão o bem e o mal e o amor em tudo crê e tudo aceita, o alvo e o sujo.

Somos empurrados pelo que rasga a pele e abana a alma. Qual coração e qual aura. Paixão é amor a ferver. E o que ferve tem de saltar. E quando saltamos e amamos, somos humanos.
Não é por se ser inteligente ou por se ter muitas coisas, ou por se ser independente ou por ser moderno que nos definimos.
Sou livre para saltar, abandonar tudo, abandonar o eu construído e regressar ao eu ciente.
A paixão e o amor são os portadores supremos e únicos do auto–conhecimento, que nesse ponto, até já esquecemos. “Ama e faz o que quiseres”, porque só aí podes mesmo fazer o que queres.

E conseguir fazer qualquer coisa de bom antes de morrer é a única razão que justifica isto ser um cliché - termos nascido.

TU

Vai e esquece-te... vês aquele caminho ali adiante? Vai por lá e molha os pés no orvalho.
Que as dúvidas te sejam breves e a brisa te apure a visão... e então olha e vai até onde ninguém te conheça. Aí podes correr contra as palavras que te perseguem de cima...
Repara que a neblina por mais densa, nada é mais que o vapor que sai da chaminé do teu conhecimento, onde por fim acabas por regressar, quase sempre...
As ervas que pisas, são troncos outrora cortados p'los que te apupam e te negam o sorriso- vês como és superior? Vês como flutuas sobre os craneos daqueles que, cabisbaixos evitam o sol que encaras de frente?

Vai e enche o peito com o azul que te envolve e do qual fazes parte.
Vês como o teu sorriso brilha na penumbra mediocre dos inquéritos e dos referendos?
Vês como és verdade?

joining

è com enorme gosto que passo a fazer parte do teu blog... obrigado p'lo convite!!

Bloguemos, então!!!

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

intimidade


Intimidade do silêncio

Reclamo por interpretações desgastas,
Murmuro em estranhezas que me moldam esquiva,
enfraqueço com leituras e códigos desconfiados,
e afigura-se alguma razão em cortejar sinais,
e símbolos que se afeiçoam a desconforto e trivialidades.

O silêncio não existe,
Mas o trajecto a caminho dele, sim.
A intimidade do silêncio.

A cumplicidade não existe, conquista-se.
Senão, quem és tu? Acho que nunca te vi
Existes, só, para lá do meu conceito,
Da minha vontade.
E todos os dias, abres mais, uma fresta
E não te encontro
Peço ao vento que te traga,
Peço à sorte que te fale,
Peço ao imprevisto que te adule,
Peço à poetisa que te declame;
E depreender e enrolar-me, na tua essência,
Na tua íntima fracção
E olhar-te na confortável insuficiente capacidade e ficar sublime
Ao perceber a tua beleza,
A intimidade do silêncio.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Feira da Ladra vista por Sérgio Godinho

É terça-feira
E a Feira da Ladra
Abre hoje às cinco
Da madrugada

E a rapariga
Desce a escada quatro a quatro
Vai vender mágoas
Ao desbarato

Vai vender
Juras falsas
Amargura
Ilusões
Trapos e cacos
E contradições

É terça-feira
E das cinzas talvez
Amanhã que é quarta-feira
Haja fogo outra vez

O coração
É incapaz
De dizer "Tanto faz"
Parte para a guerra
Com os olhos na paz

É terça-feira
E a Feira da Ladra
Quase transborda
De abarrotada

E a rapariga
Vende tudo o que trazia
Troca a tristeza
Pela alegria

E todos querem regateiam
Amarguras
Ilusões
Trapos e cacos e contradições
É terça-feira
E a Feira da Ladra
Fica em fim quieta
E abandonada
E a rapariga
Deixou no chão um lamento
Que se ergue e gira
E roda com o vento
E rodopia e navega
E joga à cabra-cega
É de todos nós
E a ninguém se entrega

Música e letra de Sérgio Godinho

Por onde andei....II

Quem não se recorda de se levantar de madrugada aos sábados e ir pela fresquinha até à feira da ladra para vender peças de roupa velha, livros que nos vão enchendo a casa com o passar dos anos, o nostálgico vinil que nos dá jeito feirar para se arranjar uns trocos, alguns sapatos e botas que passaram de moda, velharias que ocupam espaço lá em casa. Lembram-se do ritual? Pintávamos a manta e como nos divertíamos. E fazíamos dinheiro.
A convivência e o companheirismo que se criava com os restantes vendedores eram extraordinários.
Uma feira, muitas vidas, muitas histórias! Esta é uma das mais antigas feiras lisboetas. Uma feira com uma indiscutível variedade de objectos e pessoas, esta é uma das mais típicas feiras de Lisboa, e talvez quem sabe de Portugal.
A Feira da Ladra existe há 900 anos. Em 1185 começou por se chamar Mercado Franco de Lisboa, depois "Chão da Feira" e só por último Feira da Ladra. Também já foi chamada de "Feira das Almas", dado que a Feira tinha o seu ínicio ainda de noite, sendo então necessário acender velas para iluminar as bancadas. Essa luz produzia um ambiente tão fúnebre, que as pessoas diziam que por ali andavam almas do outro mundo. Ainda hoje a tradição se cumpre, a Feira da Ladra começa realmente cedo. Actualmente os vendedores são ligeiramente diferentes dos de antigamente, na altura as pessoas aprontavam-se para irem à Feira, pois era um local onde só se via gente bonita e bem vestida. Actualmente, a feira é frequentada por todo o tipo de pessoas, jovens que procuram roupa fora do comum, CDs de música ao desbarato, e, com o pouco dinheiro que têm, podem comprar variadíssimas coisas. Pessoas de diferentes idades frequentam a Feira indo à procura de peças para reparar outros objectos e por vezes Lp's antigos .

Por onde andei....



Freguesia de Santo Estevão, a visitar.


Começa-se pela igreja que está fechada há anos, pelo que vi, vandalizada nem sei por quem. Dá pena. No largo da igreja há um miradouro lindissimo com vista para o Tejo. Passei lá grande parte da minha infância. Todos os dias de manhã saía com a minha avó que trabalhava como mulher a dias numa casa na Costa do Castelo - tudo ali perto, a jeito - ela deixava-me na escola e a seguir ao almoço, aliás, almoçava já numa cantina anexa à igreja e as tardes eram preenchidas com actividades extra-curriculares. Na altura, acho que não se chamava isso. Portanto aminha infância foi entre as escolas gerais e a rua e igreja de santo estevão. Ah, o chafariz de dentro...


O Santo que deu nome à Freguesia
Reza a história que Santo Estêvão era um diácono judeu, que falava grego e foi considerado o primeiro mártir cristão. Ficou conhecido pela sua forte personalidade, conhecimento e eloquência, razões que levaram os apóstolos a confiarem-lhe a distribuição das esmolas aos fiéis.
A capacidade de pregador de Santo Estêvão motivou grande aposição e até alguma hostilidade, acabando por ser diversas vezes denunciado à assembleia de judeus, também conhecida por Sinédrio. Apesar das explicações e justificações, foi denunciado como blasfemo, levado para fora da cidade e apedrejado até à morte. O Santo Estêvão, que dá nome à Freguesia, é festejado no dia 26 de Dezembro
.


Chafariz de Dentro
O Chafariz ou Fonte dos Cavalos ou de Dentro é uma nascente muito antiga e a referência mais antiga que se conhece data do ano de 1285. Este símbolo arquitectónico do bairro foi também denominado noutros tempos de Fonte ou Chafariz de Alfama. Numa das suas crónicas, Fernão Lopes esclarece que as bicas deste chafariz – que os castelhanos quiseram levar como memória depois do saque à cidade em 1373 – tinham o feitio de cabeças de cavalos em bronze.
Há ainda várias referências histórias que apontam para que debaixo do chafariz existisse um lago. De facto, encontram-se no local duas casas de água, cada uma como a sua nascente. Uma é a do Chafariz de Dentro, onde está uma arca de água, a outra é a do tanque das lavadeiras, no Beco do Mexia.

Alfama e os seus becos








Alfama ao longo dos tempos

Os primeiros vestígios em Alfama são de uma ocupação Romana, que terá definido a primeira organização do espaço urbano. Os romanos chegaram a Olisipo no século II a.c. e a sua ocupação manteve-se até ao declínio do Império, em meados do século V d. c. Durante a sua estadia, aproveitaram a característica naturais do espaço, como a abundância de água, para construir equipamentos colectivos como banhos e balneários.
Nessa altura, Alfama estava inserida numa parte da cidade que assumia um papel estruturante e servia de acesso às chamadas vilaes . A Rua de São Pedro, que se estende pelo Largo do Chafariz de Dentro e pela Rua dos Remédios é um dos exemplos dessa importância.
No século VIII chegam a Olissibona os árabes, atribuindo-lhe o nome de Lixbuna, que mais tarde – aquando da reconquista cristã – derivou para Lisboa. Esta foi a civilização que mais marcas deixou na malha urbana de Alfama. As ruas largas dão lugar a ruas estreitas e não nos podemos esquecer que foram os árabes que atribuíram o nome a Alfama, lugar com abundância de água.
Em 1147 D. Afonso Henriques conquista Lisboa. Alfama manteve a sua estrutura e era agora um local conhecido por albergar os delinquentes e os menos afortunados. A cidade expande-se então para Norte e Oeste e Alfama, por se situar junto ao rio, começa a servir de alojamento a muitos marinheiros. Devido à sua falta de espaço, o bairro começa a crescer em altura .
Já no século XIX, Alfama era um local destinado à demolição. Contudo, alguns anos mais tarde, assume um papel histórico-cultural relevante e começa a ser vista como um ponto importante na cidade de Lisboa. Até hoje... E ainda bem.


http://www.jf-santoestevao.pt/

http://www.esec-filipa-lencastre.rcts.pt/jornal/ed3/ed3p16.htm

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Ainda Leomil




Leomil e a Picota




Leomil, para quem não sabe, já se chamou Serra da Nave, ou Lobagueira.

Hoje é, Vila de Leomil e cheia de encanto e ternura beirã. Belos sítios recônditos se encontram, por lá e, tantas e tantas estórias de meninice, têm para contar. Vivem no tempo e permanecem à vista das paisagens, riachos, ruelas ínfimas cheias de varandas com sardinheiras e amores-perfeitos. Só visto. A Capela rodeada de casas em granito. O Pelouro com uma fonte onde se pode bebericar alguma água. À sua chegada encontra-se o Largo com o seu coreto tão bem esboçado. E a Picota que já brincou com tanta criança. A Igreja que dá à vilinha o seu cunho cristão e beirão. A poesia vagueia por lá. Podem crer que sim.

Pertence ao concelho de Moimenta da Beira do Distrito de Viseu e localiza-se na região da Beira, mais precisamente, numa região denominada de "Planaltos Centrais".
O seu clima é fabuloso principalmente no Verão, os meses prolongam-se de Maio a Setembro, e chegam a atingir temperaturas superiores a 25ºc.
De uma forma geral, ocorre maior precipitação em Fevereiro e menor em Agosto.
O clima é bastante pluvioso com precipitações anuais médias que variam entre os 800 mm e os 1400 mm. A ocorrência de nevoeiros não é significativa, mas acontece regularmente ao longo do ano, geralmente nos meses de Janeiro e Dezembro.
As geadas são mais frequentes. No que respeita à humidade, as primeiras horas da manhã, com valores elevados.
Rica de passado histórico, tem abundantes fontes históricas espalhadas por diversos arquivos do país, não tivesse sido ela, sede de um dos mais célebres coutos medievais portugueses, e vastíssimo concelho extinto em 1855.

Esta graciosa Serra entre os Rios Paiva e Távora e pertence ao Maciço Galaico-Duriense. O seu ponto mais alto atinge os 1011 metros de altitude. É formada por ondulações com uma vegetação onde é visível o pinheiro, a giesta, a urze, o rosmaninho, o sargaço e é muito agradável subir ao ponto mais alto da Serra, uma vez que se nos depara a grandiosidade e beleza da paisagem que se alonga em todos os sentidos até aos Vales do Tedo, Paiva e Távora, até às cristas das serranias que se avolumam lá ao longe, como é o caso das Serras do Marão, da Estrela, do Caramulo e Montemuro.

Leomil ressuma as idades da terra e os jeitos de civilizações primitivas e clássicas, visíveis nos dólmens, restos de estradas romanas, cruzes e alminhas, fundações de castros e de mourarias, pedras de cunhais, portas, eirados, cornijas de antigas casas e capelas, palavras e nomes celtas, romanos, godos, árabes, recordações do oriente, do levante, da Europa Central, do Norte de África, tudo se encova e rescende nas chãs e lombas de Leomil desde os ritos duídicos às eras da Cristandade, evocando pantaismos e mitologias, gestos bizantinos, românicos, góticos, renascentistas e barrocos, fundidos no ar, no silêncio das cumiadas e no espraiado colorido das veigas em que corriscam como estrelas, as àguas do regadio.


Existe outra vila com o mesmo nome e que pertence ao concelho de Almeida